"A prefeitura de São Luis está mostrando não ter capacidade de gerir a rede municipal de saúde" enfatiza Ricardo Murad







































Em entrevista exclusiva ao Jornal Pequeno, o secretário estadual de Saúde, Ricardo Murad, confirma que irá propor uma parceria emergencial visando atender a demanda por cirurgias eletivas em São Luis. Ele explica que esta medida tornou se necessária para dar suporte à rede estadual de saúde, já que os hospitais estaduais de Alta Complexidade Tarquínio Lopes Filho (Geral) e Carlos Macieira, estão absorvendo todos os casos de urgência e emergência não atendidos pelos Socorrões mantidos pela Prefeitura de São Luis.

Segundo Ricardo Murad, cerca de três mil pessoas esperam hoje por cirurgias eletivas no Hospital de Alta Complexidade Tarquínio Lopes Filho, que está impossibilitado de atender para receber o grande numero de casos de urgência e emergência que chegam às UPAS e delas são transferidas para outras unidades da rede estadual.

"Hoje tem ocorrido um fato grave, A nossas UPAS estão atendendo casos que deveriam estar nos Socorrões. Ninguém mais quer procurar os serviços que, na rede de urgência e emergência aprovada pelo Ministério da Saúde, deveriam estar concentrados nos Socorrões I e II," enfatiza o secretário.

Ele acrescenta que por conta do não funcionamento da rede municipal, está ocorrendo a inversão do fluxo de pacientes dentro da rede pública de saúde. "Estamos usando a nossa rede e cotidianamente transferindo pacientes das UPAS de São Luis para fazerem cirurgias no Hospital Macrorregional de Coroatá, no Hospital Geral de Peritoró, no de Presidente Dutra e no de Barreirinhas", afirma o secretário, para ele, a prefeitura de São Luis está mostrando não ter capacidade de gerir a rede municipal de saúde, o que causa uma reação em cadeia.


JP - Na última sexta-feira, o senhor convocou a rede particular de saúde da capital e propôs uma parceria para a realização de cirurgias eletivas. A rede pública não está dando conta da demanda?

Ricardo Murad - De uma maneira geral, podemos dizer que não, m,as é preciso entender a questão. A rede pública de saúde é composta basicamente pelo serviço de urgência e emergência e pelos serviços de baixa, média e alta complexidade, que, entre outras coisas, aquelas em que o usuário não corre risco eminente de morte.
O que está ocorrendo é que a rede estadual está absorvendo uma enorme demanda de serviços urgência e emergência que deveria ser realizados pela Prefeitura de São Luis por meio dos Socorrões I e II. Como a prefeitura não está fazendo a sua parte, os leitos dos hospitais Geral e Carlos Macieira, que deveriam ser ocupados pelas cirurgias eletivas e internações clínicas de alta complexidade, estão sendo utilizados par absorver casos mais urgentes.

JP - Mais porque isso está acontecendo?


Ricardo Murad - De acordo com o que está aprovado pelo Ministério da Saúde, o atendimento de urgência e emergência de São Luis, deveria ser feito pelos hospitais municipais, os Socorrões I e II. Mas por conta da má administração e da superlotação nesses locais, a população está correndo para as UPAS.
Como essas unidades não são projetadas para atendimentos de alta complexidade, encaminhamos os pacientes para o Hospital Geral e para o Carlos Macieira. Ai está o problema: com a ocupação dos leitos desses hospitais de alta complexidade com casos que deveriam ser atendidos na rede municipal, somos obrigados a reduzir o numero de procedimentos eletivos.

JP - E como vai funcionar essa parceria com a rede privada de saúde? Ela é emergencial ou vai passar a fazer parte da rede pública 


Ricardo Murad - É emergencial, mas não podemos determinar por quanto tempo irá durar. Temos hoje uma demanda de três mil pessoas aguardando para realizar cirurgias eletivas nos hospitais de alta complexidade estaduais. Para se ter uma ideia, no Hospital Tarquínio Lopes Filho, o  Hospital Geral, temos a capacidade de realizar até 30 cirurgias eletivas por dia, mas não estamos conseguindo realizar nem dez, porque temos que realizar as cirurgias de urgência, que são da responsabilidade da Prefeitura de São Luis.
Resumindo: Temos as equipes medicas, a estrutura está disponível, mas estamos cedendo os leitos para os casos de urgência e emergência oriundos das UPAS.
Ou fazemos isso, ou os casos mais urgentes não são atendidos e as pessoas vão morrer sem receber nenhum tipo de tratamento, já que os socorrões como se sabe, não tem condições de atender à população.

JP - A prefeitura tem sempre reclamado que o mau atendimento nos Socorrões é por conta da alta demanda, vinda sobretudo do interior do estado.

Ricardo Murad - Isso é conversa. Hoje o fluxo de ambulâncias está invertido, a grande maioria está saindo de São Luis para o interior, pois o Carlos Macieira e o Geral estão lotados e encaminhamos pacientes para os hospitais macrorregionais de Barreirinhas, Coroatá, Peritoró, e Presidente Dutra, além disso, estamos entregando hospitais prontos e equipados em todas as regiões do estado, sejam eles de pequeno, médio ou grande porte, isso podemos comprovar a hora que a prefeitura de São Luis quiser.
A Prefeitura também não diz à população que recebe recursos dos outros municípios, cerca de 100 milhões de reais por ano, para fazer este atendimento. Se não tem condições de atender, porque pactuou assim com o Ministério da Saúde? A questão é, antes de mais nada, de gestão, ou melhor, falta de gestão por parte da Prefeitura de São Luis. Mais uma vez volto a afirmar. Se o prefeito Edivaldo Holanda colocar o interesse público acima da questão política e deixar de ser refém de uma candidatura que está inviabilizando sua gestão, proponho a ele passar toda a média e alta complexidade que estão hoje a cargo do município para o estado, e garanto que resolvo esse problema desumano e intolerável que não podemos conviver nem mais um dia.

JP -  O senhor já disse que a parceria com os hospitais da rede privada é emergencial, qual a solução para o problema em longo e médio prazos?

Ricardo Murad - Não depende unicamente de nós. O governo do Estado está fazendo a sua parte. Mesmo não sendo de nossa responsabilidade direta, não podemos lavar as mãos e deixar de atender as pessoas que procuram a rede estadual, mas isso acaba causando um estrangulamento em nosso potencial de atendimento. Já mostramos que o problema é de má gestão no inicio do processo, que são os Socorrões I e II. A população tem sofrido demais neste locais e acabando buscando abrigo nas UPAS, pois sabe que lá seu problema será resolvido, com tratamento humanizado.
No final do ano passado, no curto período que estivemos a frente dos Socorrões, nós provamos que ali não é um bicho de sete cabeças: ampliamos as equipes médicas, colocamos para funcionar todas as salas do centro cirúrgico, repusemos os estoques de insumos, acabamos com as macas nos corredores e demos resolutividade no atendimento.
Mostramos que o problema é de gestão. A Prefeitura de São Luis, está mostrando não ter capacidade de gerir a rede municipal de saúde, o que causa uma reação em cadeia. O cidadão que está lá no outro extremo, na expectativa de fazer sua cirurgia eletiva, tem que aguardar ainda mais, pois estamos fazendo o nosso trabalho e o trabalho da prefeitura.




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