Estaríamos, uma vez mais, diante da crônica de uma derrota anunciada?

Franklin Douglas (*)















CRÔNICA DE UMA DERROTA ANUNCIADA?


Primeira afirmação: "Ele errou ao decidir vincular sua candidatura a do PSDB".

Segunda afirmação: "Num estado que tem o maior contingente de beneficiários dos programas sociais e do Bolsa-Família, ir para o palanque dos que chamam esse programa de bolsa-esmola é um suicídio. É o que ele está cometendo".

Terceira afirmação: "No Maranhão, Lula obteve a segunda maior votação no Brasil. O conjunto desse eleitorado não é Lula+Sarney, existe uma parcela significativa Lula+antissarney. Ao optar pelo tucano, ele abriu mão de disputar esse eleitorado"

Quarta afirmação: "Lula é Sarney. Onde Lula estiver, a gente tem que estar do lado contrário. Ele está certo, vamos com o PSDB".

Não, cara leitora, caro leitor, ao contrário do que parece, o ele em destaque não se trata de Flávio Dino, como o fato político da semana (a declaração de apoio do tucano Aécio Neves ao pré-candidato do PCdoB) dá a entender.

Refere-se, na verdade, a Jackson Lago, ex-governador, cassado em 2009, quando optou, na eleição de 2010, ao fechar aliança com José Serra, candidato do PSDB à Presidência da República, naquele ano.

A chapa de Jackson teria como candidatos a senadores o deputado federal Roberto Rocha e o ex-ministro do STJ Edson Vidigal, ambos, então, tucanos, unindo PDT, PSDB e PTC, na coligação "O povo é maior".

A tática eleitoral resultou em 73% dos votos em Imperatriz, 15% dos votos em São Luís, as duas cidades administradas por tucanos (Sebastião Madeira e João Castelo), e num total de 19,54% dos votos ao final do primeiro turno, ficando atrás do outro candidato oposicionista vinculado ao lulismo, Flávio Dino (PCdoB-PSB-PPS), que alcançou o segundo lugar com 29% dos votos. Sob suspeita de fraude, a candidata da oligarquia levou a eleição no primeiro turno.

A soma dos dois candidatos instalados no condomínio do Planalto (Roseana - 50,08%; e Dino - 29,4%) teve cerca de 9% a mais que a quantidade de votos dados a Dilma no Maranhão - 70,5%, a maior votação obtida no país. No segundo turno, exatamente o mesmo percentual: Dilma totalizou 79,09% dos votos. Serra ficou com 15,09%, no primeiro turno, e 20,91%, no segundo turno.

Há outros elementos a acrescentar à análise, tais como: a intervenção do PT nacional no PT maranhense, forçando a coligação com Roseana; o uso, pelo candidato do PCdoB, de que o candidato do PDT teria seu registro cassado, por estar enquadrado na Lei da Ficha Limpa - o que não aconteceu; a cristianização de Jackson, abandonado por sua coligação e empresários aliados que se afastaram do candidato no desenrolar do processo eleitoral; o "pragmatismo" dos prefeitos das cidades do interior e dos vereadores da capital, em sua maioria retornando à base da oligarquia, após a volta de Roseana via o golpe judiciário de 2009; o desgaste dos dois anos de governo da Frente de Libertação do Maranhão; a excelente performance do candidato do PCdoB na capital, fruto da quase vitória em 2012, evitada pelo (desastroso) apoio dado pelo PDT de Jackson à eleição de Castelo; dentre outros pontos.

Mas para a variável isolada em análise, o fato é que a tática eleitoral de unir-se aos tucanos para garantir a eleição no Maranhão é um equívoco já devidamente evidenciado pelo resultado das eleições passadas. Como corretamente avaliaram, naquela ocasião, dirigentes das correntes das alas antissarneysistas no PT, responsáveis pelas duas primeiras afirmativas no início deste artigo, e um alto comandante da campanha comunista, autor da terceira afirmação. E errou feio um alto dirigente pedetista, autor da quarta afirmação, que herdaria o controle partidário pós-Lago e, sem pudor algum, depois de votar em Serra, comporia o governo Dilma.

O que mudou? Estruturalmente nada. Eleitoralmente há um cenário de fragilização da coligação nacional, mas que não se reflete no Maranhão. Estadualmente, há um favoritismo oposicionista que não é inédito na história política maranhense, e foi revertida pela oligarquia a partir dos erros das oposições. Especialmente daquela que, vocacionada para ser oposição de esquerda, sucumbiu ao atalho fácil como o caminho para ganhar uma eleição, e se tornou uma oposição conservadora, de viés de direita: no projeto e nas alianças eleitorais.

Estaríamos, uma vez mais, diante da crônica de uma derrota anunciada?

Em tempo: o título deste artigo parafraseia o nome de um dos livros de Gabriel Garcia Marques- Crônica de uma Morte Anunciada, de 1981. Por ele, minha homenagem aquele que foi o abre-alas de literatura latino-americana para o Mundo. Partiu em 17/04/2014, aos 87 anos, mas deixou o legado de seu "realismo fantástico", neste tempos em que as atuais gerações tomam gosto pela literatura a partir de um "fantástico irrealismo".


(*) Franklin Douglas- jornalista e professor, doutorando em Políticas Públicas, escreve aos domingos, quinzenalmente, ao Jornal Pequeno. Email: oifranklin.ma@gmail.com

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