Um exemplo de jornalismo - A coragem de fugir do óbvio e mostrar o outro lado



O caso do médico Jaime Gold, de 57 anos, que morreu na manhã de quarta-feira (20), após ser assaltado e esfaqueado por um adolescente de 16 anos na noite de terça-feira (19), enquanto passeava de bicicleta pela Lagoa, Zona Sul do Rio, repercutiu em todo o Brasil e no exterior. O fato foi capa de jornais mundo afora e colocou ainda mais lenha no debate sobre a redução da maioridade penal.

A grande maioria dos jornais, portais de noticias, blogues, redes de TV e emissoras de radio, preferiu aderir ao discurso único proferido pela maioria da população brasileira, - segundo pesquisa 80% dos brasileiros são favoráveis a redução da maioridade penal -. O foco do caso foi mostrar que este é um exemplo de que necessitamos reduzir já a idade penal para responsabilizar adolescentes cada vez mais cruéis e sanguinários. A mídia se encarregou de transformar o jovem adolescente em um monstro que com 16 anos já passou 15 vezes pela policia. A reação do público foi imediata, os comentários nas redes sociais demostram bem o efeito do discurso direcionado. 

Na contramão da história, a jornalista Carolina Heringer, do jornal Extra, decidiu inverter a logica e contar outra história. a jornalista foi pesquisar a vida do adolescente, quem ele era, aonde nasceu, quem são seus pais, aonde estudou.

Carolina encontrou uma grande história, que até então estava escondida, ninguém conhecia a vida do anonimo e invisível adolescente que só se tornou conhecido e passou a estampar as paginas de policia dos jornais  na quarta-feira (20), quando foi apreendido como suspeito de assassinar o médico Jaime Gold.

Carolina Heringer, produziu um excelente material que foi publicado na edição do Jornal EXTRA  desta sexta-feira (22), Duas tragédias antes da tragédia - SEM FAMÍLIA SEM ESCOLA 

A jornalista foi feliz e está de parabéns porque através de um outro olhar, através de um recorte diferenciado o invisível veio a tona, Carolina mostrou o que ninguém tinha mostrado, foi atrás do outro lado da história, conseguiu contar uma grande história e fazer o contraponto. Esta tragédia é resultado de outras duas que quando aconteceram não foram capa de jornais. Nesta tragédia o adolescente e apontado como culpado e de quem a culpa das outras duas??

Jornalistas como Carolina Heringer, engrandecem o jornalismo e fazem reascender a esperança de que ainda existe uma saída para o jornalismo no Brasil, e que apesar de muitas desilusões ainda vale a pena ser jornalista neste país. 



Desde 2010, foram 15 passagens na polícia, em uma das passagens, em 25 de outubro de 2010, os policiais afirmam que X. e outro menor estavam passando fome, sem dinheiro para voltar para casa.
Em janeiro de 2011, os pais do adolescente foram indiciados por abandono. Em depoimento à polícia a mãe do adolescente, de 55 anos, mostrou que já sabia que o filho estava trilhando o caminho do crime. Catadora de latas, papelão e garrafas pet, ela relatou que o menino cometia roubos e furtos desde 2010, e que ele já tinha aparecido em casa com um cordão de ouro. Ela contou ainda que o filho era usuário de maconha, e acreditava que muitas vezes ele comprava drogas com o dinheiro obtido em roubos.
A mãe, viúva do primeiro marido há 20 anos, relatou ainda que o pai de X. não participou da criação do filho, e sequer ajuda a sustentá-lo. O próprio menino relatou àpolícia que só viu o pai duas vezes na vida.
Aos 12 anos, ao ser recolhido na rua pelos policiais, X. contou que costumava matar aula para ir à praia no Leblon e em Ipanema. Segundo o adolescente, sua mãe não sabia que ele ficava perambulando nas ruas. Ele dizia que jogava futebol.
No início de 2013, no entanto, abandonou a escola. De acordo com a Secretaria municipal de Educação, X. estudou em unidades da prefeitura por nove anos, de 2003, ainda na pré-escola, até 2012, no 6º ano.
A última passagem de X. por unidades para menores infratores foi em janeiro deste ano, quando foi apreendido por furtar bicicletas no Jardim Botânico, também na Zona Sul do Rio. O adolescente ficou na unidade do Degase por menos de um mês, do dia 16 até 13 de fevereiro. De lá, foi para uma unidade para menores em semiliberdade, de onde acabou fugindo.
Das 15 passagens de X. pela polícia, oito foram por roubo, três por furto, uma por desacato, uma por posse de drogas, outra por tráfico, e, a última, por estar portando uma faca. Nessa ocasião, o adolescente foi pego na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, por dois policiais militares. Ele tinha acabado de esconder uma faca de cozinha na areia . Ao ser levado para a delegacia, falou aos policias que era morador do Morro do Cantagalo , em Ipanema.
Numa de suas passagens pelo Degase, X., junto com outros adolescentes, acusaram agentes socioeducativos da Escola João Luiz Alves, na Ilha do Governador, de tortura. A denúncia foi feita em dezembro de 2012, mas o fato teria acontecido em setembro do mesmo ano.
Leia mais: http://extra.globo.com/casos-de-policia/menor-suspeito-de-morte-na-lagoa-deixou-escola-aos-14-anos-so-viu-pai-duas-vezes-era-negligenciado-pela-mae-16230681.html#ixzz3av85wtmh

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