OBRIGADO, DEUS! - Regis Marques






Excelente texto escrito pelo amigo Jornalista Regis Marques, vale a pena ler e refletir, é uma bela lição de vida e de sucesso.

  • OBRIGADO, DEUS!

    Sou filho de um maçom que, devido à visão obscurantista de parte da Igreja Católica chegou a ser proibido de batizar uma criança. Isso não abalou sua fé. Todo domingo arrastava os sete filhos para a missa, em latim, numa pequena capela da Congregação das Irmãs Doroteias, onde hoje funciona uma faculdade, em frente ao extinto campo do Moto Club, no Canto da Fabril.

    Congregado Mariano na Igreja de São Vicente, ele visitou o Vaticano e, durante a visita do Papa João Paulo II a São Luís, já gravemente enfermo, foi escolhido pela mesma Igreja Católica para representar um dos 12 Apóstolos no lava-pés realizado por Sua Santidade no Aterro do Bacanga.

    Minha mãe já trazia de sua dura infância o apelido de Santa. Católica fervorosa deu a São José de Ribamar sua primeira filha, Ana, para ser sua afilhada.
    Recorreu à umbanda quando, desesperada com a covarde prisão de meu pai durante a ditadura militar que, em 1964, desgraçou milhares de lares brasileiros, cansou de esperar pela justiça dos homens e viu arrefecer sua fé na de Deus. Voltaria logo aos braços de Nossa Senhora Aparecida e, todas as noites, curvava seu corpo frágil para orar antes de dormir.

    Minha relação com Deus sempre foi de extremos. Na infância, um amor incondicional e uma devoção incomensurável. Vi meus irmãos mais velhos fazerem a lª Comunhão vestidos de branco. Preparei-me para esse sagrado momento na catequese da mesma capelinha onde meu pai nos levava para assistir às missas em latim. Perto de chegar o grande dia, de novo a ditadura desgraçada veio e me roubou a chance de participar do evento. 

    Com meu pai preso, haveria chance de comunhão? Nunca mais comunguei...
    Um acidente de carro comigo e com minha companheira Neusa, no dia 8 de dezembro de 1984 me reaproximou de minha fé. Não tive dúvidas que foi a mão intercessora de Nossa Senhora da Conceição, cuja festa se comemora nesse dia, que salvou nossas vidas. Voltei a frequentar as missas e passei a guardar o dia dela para participar da missa campal e, em seguida, da procissão.

    Sempre temi e respeitei o dogma da Igreja de que eu era um excluído dos sagrados sacramentos. Não podia comungar porque vivia em pecado. Até que, em 2006, durante a missa campal no Bacanga, vi o bispo conceder a comunhão ao ex-governador José Reinado Tavares – em visível estado de embriagues no altar. Em seu 4º “casamento” e com processo na Justiça do Rio Grande do Sul por abandono de um filho menor, o governador era recebido de braços abertos pela Igreja que me negava a comunhão.

    Naquele dia deixei de frequentar as missas e a procissão. Escolhi os santos aos homens. Preferi Deus à hipocrisia de batina. Minha fé na Imaculada Conceição se mantém inalterada. Melhor: cresceu. Hoje rezo a ela, ao seu filho Jesus e a Deus Pai de Bondade.

    A eles que hoje recorro para dizer que, mais que nunca, sou gratidão: estou em casa depois ter sido submetido a um procedimento médico que visa curar-me de uma arritmia no coração que já me assombrava, ameaçando minha vida.

    A solidariedade de cada um dos amigos que veio aqui emprestar-me sua fé, sua força e seu carinho ajudaram a Sagrada Família a cuidar de mim nesse momento, e guiar as mãos hábeis e serenas dos drs. Leudo Campos e Júlio César Uchoa Serra e sua equipe.

    Chorei muitas vezes lendo as mensagens de vocês. De todos vocês. Eu dizia que estava sereno e tranquilo, mas essa serenidade vinha de vocês. Muitos não eram sequer meus amigos de verdade. Agora o são. Outros, vieram aqui através de outros amigos. Como a já querida Bele Ramos, amiga do meu amigo português Rogério Martins Simões. De Portugal, Bele e outros amigos de Rogério se uniram nessa corrente de fé.

    Todos deixaram suas marcas em meu peito. Marcas indeléveis, que jamais se apagarão porque ditas com a sinceridade da solidariedade espontânea, aquela que nasce na alma, cresce na fé sem distinguir crença e reflete apenas uma certeza: é o amor ao próximo que move o mundo.

    A todos vocês, e a Deus, minha gratidão eterna.

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