De alguma forma, o pensamento imbecil está ligado à educação deficiente
Convido os nossos leitores a lerem interessante texto do jornalista e professor universitário Paulo Pellegrini, sobre a pesquisa do Ipea que avaliou a tolerância social à violência contra as mulheres, ele faz importantes considerações sobre o assunto, com certeza vale a pena ler o que Paulo Pellegrini diz sobre o assunto:
A pesquisa do Ipea sobre tolerância social à violência contra as mulheres, que revelou a estarrecedora posição majoritária do brasileiro e da brasileira "a favor" do estupro, caso a mulher "mereça" por causa de suas roupas.
Sugiro lerem a pesquisa, não as matérias sobre a pesquisa. Não é necessariamente a mesma coisa. Um dado omitido da maioria das matérias diz respeito à escolaridade dos entrevistados. Apenas 5,4% têm ensino superior e 41,5% sequer concluíram o fundamental. De alguma forma, o pensamento imbecil está ligado à educação deficiente.
Há outro detalhe importante, sob certo ponto de vista. A pergunta da pesquisa (gráfico 24) é " mulher que usa roupas que mostram o corpo merece ser ATACADA?".
A palavra usada é ATACADA, não ESTUPRADA. Embora seja evidente que a intenção da pergunta é se referir ao estupro, não descartemos a possibilidade de parte dos entrevistados terem interpretado "atacadas" como "importunadas", "cantadas", "bolinadas"... ÓBVIO, todas essas ações são ridículas do mesmo jeito, indefensáveis, machistas e tudo o mais, mas não é absurdo pensar que, se a palavra usada na pergunta fosse "estuprada", os índices de "sim" poderiam ter sido menores. Mas, como disse, que fossem mínimos: uma pessoa que fosse que pensasse assim já seria absurdo.
A palavra usada é ATACADA, não ESTUPRADA. Embora seja evidente que a intenção da pergunta é se referir ao estupro, não descartemos a possibilidade de parte dos entrevistados terem interpretado "atacadas" como "importunadas", "cantadas", "bolinadas"... ÓBVIO, todas essas ações são ridículas do mesmo jeito, indefensáveis, machistas e tudo o mais, mas não é absurdo pensar que, se a palavra usada na pergunta fosse "estuprada", os índices de "sim" poderiam ter sido menores. Mas, como disse, que fossem mínimos: uma pessoa que fosse que pensasse assim já seria absurdo.
Ainda sobre a pesquisa do Ipea.
O que a pesquisa mostra é o preconceito da sociedade ao livre direito das mulheres de ir e vir, de se vestirem como quiserem, de escolherem com quem querem sair, de serem independentes, de serem emancipadas de fato.
A liberdade das mulheres, ao combaterem o horror do estupro, é a liberdade social, de gênero, sexual, do uso do corpo.
O homem não tem o direito de interferir nessa liberdade.
Trata-se, fundamentalmente,portanto, do comportamento masculino. O estupro é uma consequência nefasta de como esse comportamento pode se manifestar, a partir de uma simples cantada indesejada, até se transformar então na coerção, na agressão, na violência, no crime abjeto.
Como muito bem se tem dito, o comportamento masculino é a causa do estupro, não a roupa da mulher.
Isso significa que o homem bem comportado não é estuprador em potencial. Nesse contexto, ser bem comportado é controlar-se, não se deixar cair em tentação.
Social e historicamente, o mecanismo mais eficaz desse controle é a religião. As igrejas ensinam a fidelidade, o respeito, a não-transgressão. O casamento é simbólico neste aspecto.
Não é exagero dizer que, se todos os homens seguissem a chamada moral cristã, não haveria estupro, a não ser em casos patológicos.
Na moral cristã, aliás, o homem sequer faria sexo antes do casamento. E as mulheres poderiam vestir-se como bem entender, sem se preocupar com assanhados.
A moral cristã, seguida, é, portanto, benéfica às mulheres.
O detalhe é que a mesma moral cristã que, seguida, tolhe o homem do comportamento inaceitável, poderia, em tese, ser contraditória à liberdade da mulher.
Na moral cristã, sexo antes do casamento vale tanto para homens quanto para mulheres, então o assédio masculino é tão transgressor quanto a livre escolha da mulher para ter parceiros que não estupram.
A liberdade do corpo - a defesa do aborto, por exemplo - é inaceitável na moral cristã.
Homens e mulheres se resguardando, casando e procriando, não traindo, não seduzindo terceiros, não fazendo sexo fora e antes do casamento, eis a receita da moral cristã que seria infalível.
Mas acredito que mulher nenhuma pensa assim, em pleno século XXI. Querem viver suas vidas com todas as vontades e não querem ser importunadas.
Não falo do estupro. Esse é injustificável, inclusive dentro do casamento, quando não é incomum maridos subjugarem esposas a violência sexual, usando o matrimônio como pretexto.
Falo apenas das liberdades. A fuga da moral cristã pelas mulheres, em defesa de suas liberdades, desconecta-se do assédio que pode virar violência somente quando é o homem que não foge dessa moral.
Cria-se um contrassenso: com a moral cristã, a mulher não é livre; sem ela, torna-se alvo do homem. Fica ruim pra ela dos dois jeitos.
Talvez por isso, é uma questão sem solução plena.
Não bastaria ao homem ser fiel aos preceitos religiosos, a mulher teria que abrir mão das liberdades; e não bastaria à mulher querer transgredir essa moral, o homem teria que segui-la.
Por isso, o assédio, a cantada, a importunação de um homem sobre uma mulher é consequência do que ambos fazem da moral cristã, ou seja, pouco a levam em conta.
Quando chega ao nível do estupro, cadeia nele.
E é essa última frase que realmente tem que ser praticada. O que vem antes é socialmente compartilhado, então não dá pra ver como problema.
Paulo Pellegrini
Paulo Pellegrini
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Jornalista Abimael Costa