Os corredores do hospital - ALEX MURAD
























*ALEX MURAD


Viver é uma experiência sem igual, especial, magnânima, surreal e fabulosa. Não existe nada tão inquietante como o poder de construir a própria felicidade e de decidir o seu destino. 

Ter a oportunidade, ainda que breve, de estar nesse mundo tão instigante, repleto de sentimentos como amor, paixão, amizade e carinho, e de ser cercado de pessoas tão interessantes, é uma graça divina, a mais incrível obra de Deus. 

Porém, nem tudo na vida são flores. Na vida também há espaço para bastante tristeza. E os corredores do hospital estão a me provar isso, me fazendo testemunhar bem de perto essa dura e implacável realidade. 

Caminho pelos corredores do hospital, ignorando o fim de tarde chuvoso e desafiando raios e trovões, e vejo que há muitas pessoas passando por um calvário, atravessando o deserto de sua vida, vendo falecer aos poucos cada função vital do seu organismo. 

Andando a esmo, me lanço ao longo dos intermináveis corredores, talvez buscando uma explicação para tanto sofrimento desses homens e mulheres que parecem personificar a própria dor. 

Enquanto meu peito comprime de tanto pesar, sigo dando passos lentos, com os olhos marejados, um nó na garganta e uma aflição de fazer inveja a um preso no corredor da morte, afinal, não posso fazer nada para mudar a vida deles. 

Eu escuto tanto chamarem jogadores de futebol, políticos e lutadores de heróis, mas percebo que heróis de verdade mesmo são essas pessoas que travam uma luta aguerrida, renhida, e dura, pela sua vida. Esses sim são mártires, exemplos a serem seguidos. 

Infelizmente, sei que um dia eu e você estaremos nos mesmos leitos do hospital, na mesma batalha ferrenha contra a morte, rodeados de aparelhos, seringas, medicamentos e pessoas estranhas trajando branco, levando uma vida em que cada nascer do sol pode ser o último. 

A vida é assim. Um dia envelheceremos, e o nosso corpo sentirá os efeitos do passar do tempo. Os anos vêm na nossa vida como flechas, minando a nossa resistência e nos deixando a mercê das invasões bárbaras chamadas de doenças. 

Um dia voltaremos a precisar de cuidados especiais, como no tempo em que éramos crianças. Destino cruel. É a nota triste da vida. 

É muito estranho ver essas pessoas, com tantas limitações físicas, numa realidade totalmente diferente da minha, mas ao mesmo tempo saber que um dia vou estar no lugar delas e que haverá outro jovem caminhando pelos corredores do hospital com o coração apertado de ver o meu estado de fraqueza e não poder fazer nada para ajudar. 

Sigo perdido entre os corredores do hospital, em meio a doses cavalares de angústia, pesar e sofrimento. Ao fundo, escuto vozes, múrmuros, gritos perturbadores, alertas de aparelhos, o barulho das rodinhas da maca que é levada rapidamente ao centro cirúrgico e o choro daqueles que estão prestes a perder um ente querido. 

Fico me perguntando: por que temos um fim como esse? Por qual razão quando envelhecemos ficamos frágeis e nos tornamos alvo fácil das invasões bárbaras? Por que antes da morte temos que sofrer tanto? 

Há coisas que não podemos mudar, e uma delas é o ciclo da vida. Temos que aceitar que um dia a velhice e a morte chegam para todos, inclusive para nós. E elas não vêm de carruagem. 

Eu converso muito com Deus e peço a Ele que me prepare e me dê forças para quando esse momento chegar na minha vida. 

Por enquanto, continuo como mero espectador, uma testemunha viva da força e da coragem desses heróis, lutando pela sua vida com destemor e valentia, nos corredores do hospital. 

* Advogado. Conselheiro da OAB/MA. MBA em Direito Tributário. 
Especialista em Direito Constitucional, Direito Civil e Processo Civil. 
E-mail: alexmurad@uol.com.br

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