Jornalismo impresso em debate


Jornalismo impresso em debate






por Jose Olimpio Leite de Castro*

Furo da Ccom, mas que furo, meu caro Mussoline Guedes? Na verdade, a assessoria do governador Wilson Martins conseguiu esconder da imprensa, por algum tempo, a viagem que Sua Excelência fez a São Paulo para se submeter a uma nova cirurgia para a retirada de um cisto do rim,dessa vez o esquerdo.




O Coordenador de Comunicação do Estado, jornalista Fenelon Rocha, por razões óbvias, tinha essa informação privilegiada muito antes da viagem do governador, mas por recomendação do mesmo ou de seus familiares não comunicou nada à imprensa, deixando para fazê-lo apenas após a cirurgia,realizada com sucesso.




Nada de assombroso nisso. É uma prática comum essa bobagem de esconder doença de homens públicos. O jornalista, por mais faro que tenha, muitas vezes passa batido em situações como essa, pois lhe falta a bolade cristal.




No entanto, as colocações feitas pelo jornalista Mussoline Guedes sobre esse episódio abrem a possibilidade de um debate interessante em torno da qualidade do jornalismo impresso que se faz hoje noPiauí.




O Editor-Executivo do Diário do Povo lamenta o fatode que jornalistas passem boa parte do tempo diante do computador, vasculhandoos portais e as redes sociais em busca de notícias atualizadas para repercutirnos impressos, por falta de interesse em ir à procura de notícias exclusivas, furos de reportagens, matérias instigantes.




Trata-se realmente de um fato inquestionável que os impressos, pelo menos no Piauí, andam a reboque dos portais de notícias, dosquais pescam textos que, muitas vezes, não são sequer refundidos. Grande parte das matérias é institucional ou declaratória, aspada. Não se vê mais boas reportagens investigativas, mas isso se deve em boa parte à empresa que não oferece condições para que o repórter produza matérias especiais.




As redações estão cada vez mais enxutas e o jornalista, não raro, trabalha além das cinco horas previstas em lei, sem falar que o piso salarial da categoria chega a ser vergonhoso. Há que se falar aindana questão da censura. Tem jornal que não permite que seus repórteres façammatérias que exponham negativamente figuras do governo, políticos influentes,amigos da empresa, ou proíbe entrevistas com pessoas consideradas personas nongratas. Nessas condições, fica realmente difícil fazer um bom jornalismo.




Por outro lado, não se pode negar que o advento daInternet provocou uma verdadeira revolução e contribuiu para mudançassignificativas na forma de se fazer jornalismo no mundo inteiro, não apenas emnosso país. Isso, porém, não significa que o jornal impresso esteja fadado adesaparecer com o avanço e fortalecimento dos portais de notícias e das redes sociais.




Não creio nessa possibilidade, mas entendo que a mídia impressa tem que se adequar aos Furo da Ccom, mas que furo, meu caro Mussoline Guedes? Na verdade, a assessoria do governador Wilson Martins conseguiu esconder da imprensa, por algum tempo, a viagem que Sua Excelência fez a São Paulo para se submeter a uma nova cirurgia para a retirada de um cistodo rim, dessa vez o esquerdo.



A saída é valorizar a reportagem e matérias analíticas, inteligentes, que fujam à superficialidade do que é divulgado nagrande rede. Aprofundar as matérias, destrinchando os fatos para melhorcompreensão dos leitores. A instantaneidade da informação na grande rede exige isso dos jornais.




Outro ponto de fundamental importância é a valorização do jornalista. A empresa deve oferecer aos seus profissionais condições dignas de trabalho e salário justo. De olho nessa questão, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) iniciou uma campanha pela criação do piso nacional de salário.




A precarização da profissão tem reflexo direto naqualidade do trabalho jornalístico e tem sido objeto de debates em nível nacional, depois que o STF resolveu desregulamentá-la acabando com a exigência do diploma para o exercício da atividade jornalística.




O problema, como se observa, nem sempre se restringe à falta de interesse ou incompetência do jornalista em produzir bons textos, boas reportagens, embora não se possa negar a existência desse tipo de jornalista que não respeita a profissão que abraçou.




Inúmeros são os fatores que contribuem para odescrédito e decadência do jornal impresso. Trata-se de um tema polêmico quecertamente será alvo de debates acalorados durante o



Encontro Estadual de Jornalistas que o Sindjor-PI pretende promover ainda neste semestre.


* José Olimpio Leite de Castro - é jornalista, escritor é o atual presidente do Sindicato dos Jornalistas do Piauí

Comentários