A Copa e o álcool - Por: Ruy Palhano*





Tenho me manifestado ultimamente com certa indignação e perplexidade ao ver a polêmica nacional que foi criada em torno da votação, na Câmara dos Deputados, do anteprojeto de lei que visa regulamentar os jogos da Copa do Mundo denominada de Lei Geral da Copa. Houve alguns pontos polêmicos na redação final desta lei, porém o tema polêmico principal está sendo em torno da venda e uso de bebida alcoólica nos estádios por ocasião dos jogos da copa.
Uns são absolutamente favoráveis a liberação para o uso e venda de bebidas nestes locais alegando que beber ou não beber é um ato de liberdade e não veem nenhum mal nisto desde que as pessoas que o fizerem assumam inteiramente a responsabilidade sobre seus atos. Estes dizem ainda que o Brasil deveria honrar os compromissos assumidos com a Fifa quando pleiteávamos a vinda da copa para nosso país e que seria uma desonra descumprimos tais acordos considerando que a imagem do país ficaria muito mal internacionalmente, haja vista que representa a copa para o povo, para a economia e para a nossa cultura “país do futebol” e assim por diante.
Por outro lado, há os que acham que apear dos acordos que foram assumidos para se trazer a copa para cá, não deveríamos liberar o uso e venda de bebidas alcoólicas nestes locais especialmente por termos uma Lei Federal que proíbe há mais de 10 anos o uso destas bebidas nos estádios, considerando os inúmeros problemas que o uso de álcool nestes locais ocasionou a nossa população, transformando nossos estádios em verdadeiras arenas sangrentas pelas guerras entre torcidas descontroladas e violentas e sempre o álcool presente.
Evidentemente, que a polêmica não gira somente em torno destas duas grandes razões, por sinal muito importante cada uma delas, mas pode esconder muitos outros interesses em torno da liberação do uso álcool nos estádios e que não aparece no debate na grande mídia.
O Sir. Blatter, o poderoso da Fifa, manifestou-se recentemente muito preocupado com toda esta situação ao declarar enfaticamente que a FIFA tem que cumprir com seus compromissos com seus parceiros internacionais, suponho eu, com os patrocinadores oficiais da copa qual seja a holding AB InBev, uma cervejaria multinacional formada em 2004 através da fusão da empresa brasileira Ambev e a belga Interbrew, que passou a controlar 14% do mercado mundial de cervejas. É a cervejaria dominante na Bélgica, Brasil e grande parte da Europa Ocidental. A empresa detém mais de 200 marcas de bebidas. Empregam 85 mil pessoas e opera em 32 países da América, Europa e Ásia. É a maior cervejaria do mundo em termos de volume de produção, com vendas, segundo o site da empresa, de 274 milhões de hectolitros em 2007.
Em 2008, comprou da fabricante Anheuser-Busch a cerveja mais vendida dos EUA, a Budweiser, formando a maior cervejaria do mundo, além disto comprou os direitos para associar suas marcas às Copas do Mundo de 2018, na Rússia, e de 2022, no Catar.
“O acordo garante que a Budweiser será a cerveja oficial das copas de 2018 e 2022”, informou a Fifa, em nota oficial. A empresa também poderá explorar as propriedades relativas aos torneios por meio de todas as marcas, em seus mercados locais. No Brasil, Brahma dividirá a assinatura das principais ações com a Budweiser, marca patrocinadora da Copa do Mundo desde o torneio de 1986, no México, e a cerveja americana paga cerca de 25 milhões de dólares por ano para ter sua marca ligada ao torneio. Por contrato, a Budweiser tem de ser a única cerveja à venda nos estádios da Copa.
Então, vejam os parceiros que o Sr. Joseph Blatter quer proteger, incitando o parlamento brasileiro a engolir de goela a abaixo a proposta de revogar a lei que interfere com estas atividades nos estágios. Talvez eles, da Fifa, não saibam, ou se sabem, são indiferentes, que o Brasil tem problemas gravíssimos com o consumo de álcool, na saúde, na segurança e na área social, em dimensões gigantescas.
Só a guisa de informações, 13% da nossa população são de alcoólatras, o que representa 27 milhões; 25% de absenteísmo no trabalho; é a terceira causa de morte no mundo; o país gasta 7,2% do PIB com problemas relativos o consumo de bebida alcoólica, 13 dos suicídios estão relacionados ao consumo de bebidas; 90% dos homicídios; 68% de acidentes automobilísticos com morte; 25% dos leitos hospitalares são ocupados com alguém com problemas com álcool. E assim por diante.
Então, o problema não é só honrar os compromissos do Brasil com a Imbev e com o Sir. Blatter, e sim, principalmente, com a nossa população, especialmente com os brasileiros que já perderam tudo, ou quase tudo, por conta de latas de cerveja. Quanto aos parlamentares que estão ávidos para votarem a favor da Ambev e da Fifa, tenham muito cuidado, pois nem só de copa e de álcool vive o homem.
*PSIQUIATRA - Ruy Palhano Silva


MÉDICO NEUROPSIQUIATRA, PROFESSOR DE PSIQUIATRIA DO CURSO DE MEDICINA DA (UFMA),
 MESTRE EM CIÊNCIAS DA SAÚDE (UFMA),
 ESPECIALISTA EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA PELA (UNIFESP),
EX - PRESIDENTE DA ACADEMIA MARANHENSE DE MEDICINA.
RUY.PALHANO@TERRA.COM.BR


  Por: Ruy Palhano*
 *Psiquiatra           
E-mail: ruy.palhano@terra.com.br

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