Não temos problemas - Ruy Palhano





                 "Abaixo às drogas", "Diga não às drogas", "Drogas: bilhete sem volta", Drogas: o flagelo da humanidade", "prevenção as drogas". Se todos observarem essas expressões, e muitas outras parecidas, que vêm sendo largamente utilizadas nos últimos 30 anos, elas se referem a um grave problema de saúde que é o uso de drogas, porém colocam a própria substância como referência central do problema, não permitindo que outros fatores que o compõem apareçam. Por força dessas expressões, a droga acaba figurando como razão principal do problema,  a isso eu chamo de "drogacentrismo".


      Essa situação drogacêntrica, da forma histórica como vem sendo colocada levou todos a acreditar que o problema do uso das drogas na sociedade, está centrado na substância e não no uso. A partir daí, construiu-se uma ideia equivocada de que, para enfrentar esse problema, deveríamos combatê-la (veja a expressão "combate às drogas), e com isso desencadeou-se uma corrida desenfreada e ingênua de "perseguição ás drogas", como se as mesmas fossem de fato as responsáveis pelo problemas ocasionados pelo seu consumo.


      Ocorre que passados todos esses anos chegou-se a triste conclusão, baseadas no fracasso das medidas públicas utilizadas para seu enfrentamento, que as drogas, não tem "ouvidos" e que as mesmas não podem ser combatidas. Até hoje, ainda temos muitas dificuldades de se organizar  medidas consistentes, seguras, amplas e abrangentes para se enfrentar esse problema do uso e dependência de drogas. A nossa vaidade e a nossa santa ignorância não nos deixa perceber que drogas são matérias inanimadas, inertes, e o que vai definir o papel é sua utilização, tanto é que existem drogas que salvam vidas e outras que destroem, pois o que vai definir uma coisa da outra é o sentido da utilização. 


     Quando recolocamos conceitualmente o problema e passamos a percebê-lo como sendo o uso das drogas o centro da questão e não as drogas em si, abre-se uma nova perspectiva para seu enfrentamento devolvendo a nós mesmos a responsabilidade de resolvermos o problema onde nós somos o centro da questão e não a substância. Nós somos os usuários, nós que vamos atrás das drogas, somos seres animados e individuais, dotados de alma, de consciência, de cérebro e de responsabilidade pelas nossas atitudes e nos é que havemos de encontrar saídas para este grave problema que nós inventamos. As drogas cedem lugar, e no lugar delas entra o homem. A isto chamo de antropocentrismo .


         Isto não significa que, diante do problema, as drogas enquanto substâncias químicas percam sua importância na contextualização do problema. As drogas de abuso, como são habitualmente designadas, são proprietárias de ações poderosíssimas e devastadoras na vida de quem as utiliza de forma abusiva. São substâncias cada vez mais indutoras de dependências e capazes de provocar prazer de forma inesquecíveis destruindo seus usuários em pouco tempo. Todas provocam danos irreparáveis no cérebro  dos usuários alterando de forma profunda e permanente este órgão provocando problemas de saúde mental de forma lenta e insidiosa. Mas, isso tudo só acontecerá se as utilizarmos. 


As drogas jamais sairão de seus lugares para atacar alguém ou fazer com que alguém as use. E isso temos que respeitar e prevenir. A partir desse novo entendimento, a forma indispensável de enfrentarmos essa situação é prevenirmos seu uso e para isso a melhor arma é a educação. É importante que se entenda que é via educação em seu sentido maior a melhor forma de erradicarmos este grave problema na sociedade. As medidas de educação preventivas deverão estar alinhadas a assistência aos usuários e dependentes das drogas, As medidas de restrição da oferta de drogas aliadas as medidas anteriores fecham o cerco evitando com isso a expansão do problema no contexto geral das medidas a serem adotadas para o adequado enfrentamento do uso destas drogas,   





*PSIQUIATRA - Ruy Palhano Silva


MÉDICO NEUROPSIQUIATRA, PROFESSOR DE PSIQUIATRIA DO CURSO DE MEDICINA DA (UFMA),
 MESTRE EM CIÊNCIAS DA SAÚDE (UFMA),
 ESPECIALISTA EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA PELA (UNIFESP),
EX - PRESIDENTE DA ACADEMIA MARANHENSE DE MEDICINA.
RUY.PALHANO@TERRA.COM.BR




Por: Ruy Palhano*
*Psiquiatra
E-mail: ruy.palhano@terra.com.br




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