Nauro Machado, o memorialista
Nauro Machado é um poema. É feito de palavras, destino e poesia. Tudo nele reflete o sentir das palavras, buscando nelas a transfiguração dos sentimentos. Falamos muito em nosso passado, na glória do Grupo Maranhense que no século XIX fez o nome do Maranhão como o estado da cultura e dos grandes escritores. Sou daqueles que não desprezam o presente. Se naquele tempo Gonçalves Dias brilhava como uma estrela solitária, não o acompanhavam outros nomes de sua dimensão. Foi o maior poeta do Brasil e está isolado em seu altar.
Mas nunca tivemos uma constelação tão brilhante quanto os tempos modernos em que conviveram na mesma época poeta da grandeza de Bandeira Tribuzi, Ferreira Gullar, José Chagas e Nauro Machado. Nauro é um universo distinto. É o mais fecundo poeta do Maranhão e talvez do Brasil. Já escreveu mais de 30 livros de poesia e só um deles, a antologia de sonetos Nau de Urano seria suficiente para consagrá-lo como um dos momentos mais altos da poesia de língua portuguesa. Pela imensa obra, ele paga sem dúvida alguns momentos de desnível que não prejudicam o que de melhor produziu. Como exemplo, e isso pode ser escolhido em qualquer um dos seus sonetos, o 327 (da Nau de Netuno) é antológico e inscreve-se no melhor da lírica de língua portuguesa. Nos sonetos sua linguagem se torna naquilo que todos os poetas almejam e que Nauro Machado alcança: a síntese. Ele é um poeta universal que transcende as nossas fronteiras literárias para alcançar um lugar que é seu com estilo e temática própria entre a vivência e a duvida existencial.
Mas meu desejo era mesmo o de falar sobre o livro A Província, que ele publicou recentemente. É uma antologia de artigos e crônicas que escolheu dentre os mais de mil textos que escreveu. O livro é uma síntese não só de artigos, mas de memorialística sobre a cidade de São Luís, sua vivência e interação com o cotidiano, sobre a sua visão de boêmio e poeta. Surge uma cidade que todos nós temos a nostalgia de pensar que existiu e não existe mais. Os tipos humanos que descreve e recria com pinceladas de cores baças pela névoa do tempo. É um livro admirável, que confirma na prosa o poeta consagrado. Algumas delas são obras-primas como as três que escreve o retrato que fixou os premiados de 1956, do 1º Prêmio Literário da Prefeitura de São Luís. Os personagens que ali estão são descritos em pinceladas que os tornam vivos e como um mestre.Nauro retira dessas imagens a alma de cada um, o tempo que viviam e os ressuscita para lembrança eterna. Os personagens já dizem, com a juventude deles, o futuro que teriam: Tribuzi, o próprio Nauro, Cadmo, Burnett, Bernardo Almeida, Casemiro Carvalho, Fernando Moreira e os membros do júri, Clodoaldo Cardoso e Mata Roma, meu velho mestre, por quem tinha veneração e guardo uma devoção.
A Província é um livro que tem unidade. Ressuscita a cidade seus tipos humanos, pessoas que o tempo levou, como Pedro Paiva, Murilo Ferreira, Almeida Boêmio, Erasmo Dias. São tantos que é impossível listá-los. Este livro passa a ser indispensável para quem deseja estudar os costumes, a sociedade, a vida e picardia da nossa São Luís.
É um livro para ser lido várias vezes e é uma obra que completa a grande bibliografia de Nauro Machado.
COLUNA DO SARNEY Publicado no Jornal O ESTADO DO MARANHÃO em 01-07-2012
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