ORALIDADE E TRANSMISSÃO DO SABER



Vivemos potencialmente em uma sociedade cuja oralidade abriga um importante destaque na cultura e por sua vez na transmissão do saber. Esta por sua vez “obedece” a uma pragmática que é apresentada de modo significativo pelo filósofo francês Jean-François Lyotard em seu escrito A Condição Pós-Moderna de 1979 e publicado no Brasil dez anos depois. 

Tal escrito trouxe um enorme ganho à filosofia e filosofia da educação ao mundo ocidental, mas no Brasil ele só foi compreendido sem rancor a cerca de 10 anos. A pragmática do saber narrativo não valoriza a legitimidade de sua transmissão, dado que ele dá crédito a si mesmo sem ser preciso provar o que se está dizendo, ao contrário do saber científico. Lyotard relata a supremacia da forma narrativa na elaboração do saber tradicional que é o “objeto” deste escrito. Pois a “narração é a forma por excelência deste saber”.

 Lyotard chama a atenção para 4 aspectos deste saber narrativo: a pragmática das histórias populares, sobretudo nos aspectos de formações (Bildungen) positivas e negativas; a enorme pluralidade de jogos de linguagem que ele veicula; a sua incidência no tempo e por fim, a transmissão do saber narrativo. 

Neste último caso, mesmo que não seja uma regra universal, ele sempre começa por uma invariável transmissão, tal como dado pelos índios cashinahua: “Eis a história de..., tal como eu sempre a ouvi. É a minha vez de vo-la contar, oiçam-na” e “Aqui acaba a história de... Aquele que vo-la contou é... [nome cashinahua], entre os Brancos... [nome espanhol ou português]”. Assim posto, a oralidade assume uma função ímpar na transmissão do saber, pois para ascender ao posto de narrador, o narratário foi antes um ouvinte.

Ao tempo que se escuta confere-se a competência para ser um transmissor, pois os três personagens da linguagem (sabe-se já que é o locutor, o ouvinte e o assunto do que se fala) veiculam assim um saber triplamente preestabelecido: o que é preciso dizer para ser ouvido, o que é preciso escutar para poder falar e o que é preciso desempenhar (no âmbito de uma realidade diegética) para poder ser objeto de uma narrativa. O que se depreende dessa configuração é o trio: saber dizer, saber escutar e saber fazer. Estes itens estabelecem assim regras pragmáticas junto a comunidade, constituindo-se, dessa forma, o seu vínculo social.

*Francisco Alberto Lemos dos Santos Professor da rede pública estadual, coordenador da rede      pública municipal, pedagogo (UFMA) e mestre em educação (unesp-sp) –

Comentários

  1. PREZADO ABIMAEL COSTA, NÃO SABIA DESTA POSTAGEM.
    AGRADEÇO A DIVULGAÇÃO DAS MINHAS IDÉIAS.
    ALBERTO

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