Bendito o filho que pode abraçar seu PAI






Neste segundo domingo de agosto, data em que celebramos mais um dia dedicado aos Pais, preciso como já foi dito aqui outras vezes, desviar o meu olhar do rosto desse homem na fotografia, mais minha alma sempre se movimenta e se atrai para dentro do silêncio do seu rosto no retrato.

Parece ser meu esse rosto, o chapéu cobrindo a cabeça, nos lábios a fina cicatriz da tristeza que fala as amarguras da sua biografia. e as suas mãos? tinham a delicadeza de borboletas quando ajeitava as cobertas dos meus sonos infantis. Aquelas mãos inquietas embalaram sonhos, alimentaram esperanças, ampararam quedas, construíram destinos, jamais bateram.

Nunca vi meu pai levantar a mão para agredir alguém. ele sempre soube fazer-se respeitar pelo exemplo e pela capacidade de realizar. era silencioso e me amou assim quase sem dizer nada.

lembro dele por suas marcas em mim:

a cada ano que passa estou falando menos, ouvindo mais, sorrindo pouco. só não serei tímido como ele porque aprendi a disfarçar.

Hoje todos os pais, anônimos ou famosos, são lembrados com ternura. e em mim bate uma saudade imensa do meu pai. Acho que tenho a mesma sensação de todos que perderam seus pais: basta que me encontre em qualquer ocasião feliz e exclamo " ele tinha que estar agora aqui ".

deve ser pior ainda perder um filho, mais o vazio que um pai deixa é enorme, a gente se sente desamparado, parece que não vai dar para prosseguir, como enfrentar os combates da vida sem aquela presença confortadora que nos inspirava a lutar e nos tornava mais destemidos

Hoje é que ele tinha que estar aqui para eu levá-lo aos lugares que povoavam apenas seus sonhos e que ele nunca conseguiu visitar. A vida foi severa com ele. eu não percebia, mas era-lhe incompreensível que nunca recebesse as recompensas por sua vida inteira devotada aos princípios da retidão.

Ele tinha que estar aqui hoje para receber o meu afeto. sinto que sem ele a minha vida perdeu muito do seu sentido, só vai em frente encorajada pela sua lembrança.

Na mesa das refeições, debruçado sobre o portão da casa para avistar os passantes em todas as situações, ele era o epicentro emocional da família. Tinha uma presença de tal vulto em nossas vidas (minha, de meus irmãos e de minha mãe) que não me doem as recordações dos enérgicos castigos que me infligia, aprazem-me apenas as melhores reminiscências de quanto significava sua presença quando éramos sacudidos pela adversidade e tínhamos no socorro dele um fundo de garantia física e moral.

Esses desavisos e outras tonteiras de hoje só podem ser atribuidos a sua ausência. existisse ele e ainda seria aquele mesmo farol a nos guiar pelos caminhos.

Nem é a sua ação que me faz falta, é a sua proteção, aquela certeza de que ele era a ultima instância.

Mas além da lembrança dos pais que se foram, este Dia dos Pais serve para a confraternização com os pais que estão ai para serem amados por seus filhos, para continuar a amar seus filhos, para não terem outro fim na vida que não seja a formação e a felicidade dos seus filhos.

Bendito o filho que tem pai, e que pode abraça-lo neste dia.

Bendito o filho que tem pai e pode sentir o peso do tempo sobre suas costas.

Pois onde quer que estejamos, o seu olhar nos guia, e sua mão nos abençoa 




"EMA- Pergentino Holanda - PH Revista - 14.08.2011"

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