Ir à
feira no domingo pela manha para fazer as compras da semana é um habito que já
se tornou tradição, faço isso religiosamente sempre pela manha, por volta das
9h. Sol forte, poucas nuvens no céu e uma brisa suave lá vou eu, de bermuda,
camiseta, chinela de dedo, e a lista do que tenho que comprar, pechinchando e
comparando preço versus qualidade.
Aproximo-me de uma barraca e uma cena prende
minha atenção, um grupo de pessoas estão aglomerados em frente uma televisão, cheguei
mais perto para ver o que assistiam com tanta atenção, afinal neste domingo,
até onde eu saiba não tem transmissão de corrida formula 1, jogos de basquete
ou voleibol.
Para
minha surpresa, eles assistiam o noticiário internacional o assunto era a eleição
presidencial nos Estados Unidos e o furacão Sandy que varria a costa dos EUA
causando estragos e destruição por onde passava, o grupo era formado por umas
dez pessoas de meia idade, todas de aparência humilde, vestidos de modo simples
e com um linguajar formal e regional discutiam de forma acirrada sobre os dois
temas.
Enquanto
uns defendia a reeleição de Obama e a continuação de seu governo, outros defendiam
a eleição do novato Mitt Romney, e cada um elencavam os motivos de sua
posição, sobre o furacão os comentários eram os mais diversos, uns de
admiração, outros de compaixão com os atingidos, outros de comparação com ou
desastres naturais ocorridos nos EUA e a diferença na quantidade de vitimas e a
forma como o governo agiu desta vez. Alegando alguns que isso se devia ao fato
de ser ano de eleição, enquanto outros discordavam.
Esta
cena pitoresca me chamou atenção para os efeitos da tão propalada globalização,
os benefícios e malefícios deste fenômeno
que foi empurrado goela abaixo pelos donos do mundo, os poderosos, ou países ricos,
que decidiram depois da queda do muro de Berlim e o fim do bloco comunista ampliar
suas fronteiras comerciais, importando seus produtos, ícones, marcas, ídolos,
costumes e tradições criando assim um
sistema onde os valores, crenças e culturas, fossem únicos e universais.
Para
tornar isto uma realidade as barreiras comercias para importação foram
derrubadas e nos tornamos bom e fieis clientes dos países de 1º mundo, enquanto
para as exportações sofremos com as restrições e o protecionismo daqueles que
querem proteger sua indústria e seus empregos, a marcas internacionais se
nacionalizaram, ou melhor, se camuflaram de nacionais para agradar e vender
para os incautos, afinal estão instaladas aqui, geram emprego, renda e
arrecadam impostos e ainda são consumidas no Estados Unidos, dão status e são símbolo
de poder, porque não consumir?
Assim
vivemos, assimilando e consumindo os valores, ideias, opiniões, tradições e
produtos estrangeiros, enquanto isso nossos valores vão sumindo, nossas
tradições vão desaparecendo, aquilo que é genuinamente regional, estadual ou
nacional não tem valor, prestígio ou importância, o que vale mesmo é o que tem
nome internacional.
Voltando
as pessoas que assistiam o noticiário internacional, é um caso típico de alienação,
assistem, comentam, pensam conhecer e na verdade o que pensam saber lhes é
imposto, é empurrado goela abaixo, sem direito a contestação, o noticiário nacional
e internacional manipula como forma de alienar.
Olhando
as condições da feira onde aquelas homens discutiam com tanta propriedade os
assuntos dos EUA, vejo que ela está abandonada, suja, e mal cuidada, será que eles
reivindicam de forma tão aguerrida melhorias para a feira onde trabalham? Será
que o bairro onde moram tem saúde, educação, segurança de qualidade? Estão eles
cientes dos seus direitos e tem usado o que sabem para viver melhor e dar uma
vida melhor para seus familiares?
A
globalização traz a comunicação em tempo real com a ilusão de trazer informação
e conhecimento, o resultado é outro, vivemos hoje a sociedade do espetáculo
onde o poder de manipulação midiático age com toda a força no sentido de alienar,
anestesiar e anular toda e qualquer forma de reação, na verdade é proibido pensar.
Ser
globalizado é consumir informações sem avaliar, contestar ou fazer julgamento critico
afinal o que eles dizem é sempre a verdade. Pobre mundo globalizado.
A
quem interessa a globalização?
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