Recaída e uso de drogas - Ruy Palhano*


Recaída e uso de drogas

                                                                                  POR: RUY PALHANO*
                                                                                     *PSIQUIATRA
                                                                 E-MAIL: RUY.PALHANO@TERRA.COM.BR



Por: Ruy Palhano* 

No universo do uso de drogas, um fato muito comum e até corriqueiro é a recaída entre os dependentes de álcool e de outras drogas e, apesar de todos os estudos que se desenvolvem no mundo, ainda há muito preconceito em seu entorno. Pode-se afirmar que até o conceito de recaída é mal colocado, recebendo um amplo debate científico sobre o assunto.

Recair, do ponto de vista psiquiátrico, é retomar um padrão de consumo de drogas que existia anteriormente a um tratamento. Trata-se de uma definição simples, mas operacional, com o que todos os especialistas trabalham.

Se uma pessoa dependente de uma droga deixa de utilizá-la por tempo indeterminado (abstinente), por qualquer motivo, e retorna seu uso de forma pior ou no mesmo padrão anterior, tecnicamente, esta pessoa recaiu. Se, ao contrário, volta a utilizar a droga e seu retorno ao consumo não foi igual ao que existia antes da interrupção, isso não é recaída, é retomada do uso, que pode ou não recair.

Outro aspecto importante sobre o fenômeno da recaída é o fato de fazer parte do diagnóstico da dependência. Isto é, todos os dependentes químicos, potencialmente, em qualquer momento de seu tratamento, podem recair, o que não significa que houve fracasso no tratamento.

Recair é uma condição que faz parte da doença. Por muitos anos, julgou-se a recaída como sinônimo de fracasso terapêutico, mas graças aos avanços no tratamento e na recuperação dos doentes, a situação mudou.

Quando um dependente de droga busca de forma espontânea ou não, o tratamento, recomenda-se que um dos aspectos relevantes a ser tratado na reconstrução do enfermo seja a recaída, pois apesar de se saber que ela está presente na clínica da doença, tem que haver um trabalho sistemático para preveni-la. A prevenção de recaída é dos aspectos mais relevantes a ser utilizado no tratamento e na a recuperação dos enfermos. Isso se dá por meio da aplicação de um conjunto de técnicas que o especialista ou a equipe terapêutica utilizam no curso do tratamento, com o intuito de evitar que a doença reapareça.

O entendimento mais recente sobre dependência mostra que quando uma pessoa fica viciada em algo, uma droga, por exemplo, desenvolve-se em seu cérebro e em seu comportamento uma condição especial com a substância, de tal forma que ela passa a fazer parte integrante da estrutura biológica deste órgão, a ponto de, na sua ausência, a pessoa passar mal e se desadaptar inteiramente de suas atividades vitais (pessoais e sócias). A droga passa a ter um significado especial e ter uma importância grande para a pessoa. Muitos dos seus interesses, prazeres, compromissos e outras tantas outras atividades, ficam subordinadas ao uso da droga. E isto se desenvolve de forma lenta e progressiva, de forma que a pessoa viciada sequer perceba.

A essa altura, a pessoa dependente já se transformou inteiramente de tal forma que mesmo que ela reconheça tais limitações ou sintomas e mesmo diante de muita ajuda de terceiros, questiona-se o sucesso do tratamento. É nesta condição que aparece a recaída como sintoma inerente à doença, que a exemplo de outros sintomas cruciais para seu reconhecimento deverá ser prevenido tecnicamente.

Isto, todavia, não significa que não se possa vislumbrar o sucesso terapêutico na recuperação dos doentes. Há, sim, recuperação. Muitos hoje estão completamente fora do lamentável mundo das drogas. Importante acreditar e ter esperança, sempre.

Ruy Palhano 

PSIQUIATRA Ruy Palhano Silva


MÉDICO NEUROPSIQUIATRA, PROFESSOR DE PSIQUIATRIA DO CURSO DE MEDICINA DA (UFMA),
 MESTRE EM CIÊNCIAS DA SAÚDE (UFMA),
 ESPECIALISTA EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA PELA (UNIFESP),
EX - PRESIDENTE DA ACADEMIA MARANHENSE DE MEDICINA.
RUY.PALHANO@TERRA.COM.BR











Por: Ruy Palhano*
*Psiquiatra
E-mail: ruy.palhano@terra.com.br
 

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