Recaída e uso de drogas - Ruy Palhano*
Recaída e uso de drogas
Por: Ruy Palhano*
No universo do uso de drogas, um fato muito comum e até corriqueiro é a recaída entre os dependentes de álcool e de outras drogas e, apesar de todos os estudos que se desenvolvem no mundo, ainda há muito preconceito em seu entorno. Pode-se afirmar que até o conceito de recaída é mal colocado, recebendo um amplo debate científico sobre o assunto.
Recair, do ponto de vista psiquiátrico, é retomar um padrão de consumo de drogas que existia anteriormente a um tratamento. Trata-se de uma definição simples, mas operacional, com o que todos os especialistas trabalham.
Se uma pessoa dependente de uma droga deixa de utilizá-la por tempo indeterminado (abstinente), por qualquer motivo, e retorna seu uso de forma pior ou no mesmo padrão anterior, tecnicamente, esta pessoa recaiu. Se, ao contrário, volta a utilizar a droga e seu retorno ao consumo não foi igual ao que existia antes da interrupção, isso não é recaída, é retomada do uso, que pode ou não recair.
Outro aspecto importante sobre o fenômeno da recaída é o fato de fazer parte do diagnóstico da dependência. Isto é, todos os dependentes químicos, potencialmente, em qualquer momento de seu tratamento, podem recair, o que não significa que houve fracasso no tratamento.
Recair é uma condição que faz parte da doença. Por muitos anos, julgou-se a recaída como sinônimo de fracasso terapêutico, mas graças aos avanços no tratamento e na recuperação dos doentes, a situação mudou.
Quando um dependente de droga busca de forma espontânea ou não, o tratamento, recomenda-se que um dos aspectos relevantes a ser tratado na reconstrução do enfermo seja a recaída, pois apesar de se saber que ela está presente na clínica da doença, tem que haver um trabalho sistemático para preveni-la. A prevenção de recaída é dos aspectos mais relevantes a ser utilizado no tratamento e na a recuperação dos enfermos. Isso se dá por meio da aplicação de um conjunto de técnicas que o especialista ou a equipe terapêutica utilizam no curso do tratamento, com o intuito de evitar que a doença reapareça.
O entendimento mais recente sobre dependência mostra que quando uma pessoa fica viciada em algo, uma droga, por exemplo, desenvolve-se em seu cérebro e em seu comportamento uma condição especial com a substância, de tal forma que ela passa a fazer parte integrante da estrutura biológica deste órgão, a ponto de, na sua ausência, a pessoa passar mal e se desadaptar inteiramente de suas atividades vitais (pessoais e sócias). A droga passa a ter um significado especial e ter uma importância grande para a pessoa. Muitos dos seus interesses, prazeres, compromissos e outras tantas outras atividades, ficam subordinadas ao uso da droga. E isto se desenvolve de forma lenta e progressiva, de forma que a pessoa viciada sequer perceba.
A essa altura, a pessoa dependente já se transformou inteiramente de tal forma que mesmo que ela reconheça tais limitações ou sintomas e mesmo diante de muita ajuda de terceiros, questiona-se o sucesso do tratamento. É nesta condição que aparece a recaída como sintoma inerente à doença, que a exemplo de outros sintomas cruciais para seu reconhecimento deverá ser prevenido tecnicamente.
Isto, todavia, não significa que não se possa vislumbrar o sucesso terapêutico na recuperação dos doentes. Há, sim, recuperação. Muitos hoje estão completamente fora do lamentável mundo das drogas. Importante acreditar e ter esperança, sempre.
Ruy Palhano
MÉDICO NEUROPSIQUIATRA, PROFESSOR DE PSIQUIATRIA DO CURSO DE MEDICINA DA (UFMA),
MESTRE EM CIÊNCIAS DA SAÚDE (UFMA),
ESPECIALISTA EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA PELA (UNIFESP),
EX - PRESIDENTE DA ACADEMIA MARANHENSE DE MEDICINA.
RUY.PALHANO@TERRA.COM.BR
Por: Ruy Palhano*
*Psiquiatra
E-mail: ruy.palhano@terra.com.br
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