Carnaval é cultura - COLUNA DO SARNEY





















Já tenho afirmado algumas vezes e escrevi um ensaio sobre a identidade brasileira. Num mundo que cada vez mais marcha para a uniformização, a interdependência e a globalização dos países, as nações mesmas vão perdendo suas raízes e uma avassaladora onda de nivelamento tende a destruí-las.

É um bem ou é um mal, como perguntaria Lin Yutang, num famoso conto chinês em que trata dos cavalos selvagens? Alguns respondem, ladeando a questão, que é a inexorável marcha da humanidade que um dia será um mundo só. Mas temos de tratar do nosso tempo e não profetizar sobre o que acontecerá daqui a bilhões de anos quando, talvez, nem o homem esteja mais na face da Terra.

Voltemos ao nosso tema: a cultura popular. Atualmente, a cultura canônica já está praticamente moribunda. Os best-sellers e o livro não mais escrito, mas produzido, está destruindo os autores nacionais. Então, a identidade cultural vai sendo diluída. Resta a cultura popular, imune a qualquer invasão, porque é intrinsecamente local, fruto dos costumes sedimentados ao longo da vida cotidiana, das influências de formação e tudo que em massas sedimentares sociais fazem a cultura. O Brasil no mundo é conhecido, tem sua identidade marcada de forma forte e indelével na cultura popular, cultura esta que foi amalgamada pelas raízes ibéricas, portuguesa, índia, africana. Esta última passou a ser dominante e o poderoso sangue negro influiu de tal maneira que marcou a todos. Se resumíssemos hoje o que isso tudo significa, poderia sintetizar numa expressão: a cultura é a alegria. Há alguns anos, conversando em Paris com o escritor francês Guy Sormann perguntei-lhe o que mais o impressionara no Brasil. Ele me respondeu que não foram as belezas naturais, as curvas das montanhas e o mar da Baía da Guanabara de que todos falavam, mas o que era comum ao povo brasileiro: a alegria, a cordialidade, o jeito especial de conviver.

Pois bem, essa nossa cultura da alegria, a nossa cultura popular tem seus pontos altos na música popular, esta que contagia e leva ao delírio corações e multidões, nos seus variados ritmos que cada dia se renovam, do samba, do axé, do carimbó, do rebolado; dos folguedos populares, os reisados, os cocos, o frevo, os cordões de boi; a cultura do botequim, que é a da conversa, das discussões amigáveis: a cultura da praia, misto de sensual e beleza natural, dos olhares devoradores e picantes, a picardia da conversa que flui entre todos; a cultura do futebol, e nada mais democrático do que um estádio de futebol, onde a igualdade existe na paixão dominadora dos torcedores e, por fim, a cultura do Carnaval, esta que é a síntese de todas porque é a verdadeira alegria, na qual a maldade desaparece, junto com o pecado, e tudo é a busca do gosto da vida, que se mistura entre luzes, cores, sons, beleza e desejo. Desaparecem todas as preocupações e o povo, este povo sempre sofrido, tem um instante para desfrutar do melhor da vida, que é viver em paz dentro de si mesmo.

Carnaval é cultura, Carnaval é bem-estar, é amor, é liberdade pura, é saúde, é turismo, é progresso.

O Maranhão tem dentro da identidade nacional, a sua identidade. E seu forte é o Carnaval, o São João, os cocos africanos - tambor de crioula, tambor de Mina -, o cacuriá. Os tipos populares, o fofão, o cruz-diabo, a casinha da roça, os blocos tradicionais que criam solidariedade e amizade. Matar o Carnaval, abandoná-lo, é tirar do povo seu melhor momento.

Um dos pontos altos de Roseana tem sido restaurar a cultura popular do Maranhão. Renasceu o São João, renasceu o Carnaval, renasceram as manifestações folclóricas que fizeram nossa cultura, como a festa de São Bilibeu já mergulhada na escuridão do esquecimento. Só quem não tem a sensibilidade da cultura maranhense e sua importância na identidade do seu povo pode querer acabá-lo.

O Carnaval não compete com nada. Não há dilema entre Carnaval e estrada, Carnaval e educação, Carnaval e dor de dente, Carnaval e dor de barriga, ou Carnaval e saúde. Melhoremos tudo, e o Carnaval também.

Lembremos o Barleus quando afirmava que "não há pecado debaixo do Equador!".

COLUNA DO SARNEY
20/01/2013
Carnaval é cultura

Comentários

  1. Concordo com o que você escreveu. Mas, quem disse que querem acabar com o carnaval? Ninguém. O que talvez não haja seja o desfile de passarela. Daí, “acabar” como carnaval tem uma graaaandeeee distância. Enquanto uma pessoa quiser brincar e dançar, haverá carnaval. É uma festa universal. Basta se querer fazer que começa o carnaval. Quanto á polêmica passarela, ali não é lugar para brincar carnaval. Ali, grupos (escolas e blocos) disputam um título, um troféu. Um lugar para gerar intrigas, discórdias, brigas e confusão, o que não compensa o pouco brilho que passa rapidamente por ali. E alguns desfilam tentando ainda abrilhantar o evento. Carnaval mesmo se brinca é na rua, nos clubes, associações, em casa. O carnaval do Nordeste inteiro é nas ruas. Só aqui que se quer imitar os cariocas e paulistas com essa história de passarela, sem seguir o principal que eles têm: organização e financiamento. Musicalmente, fica-se com o coração divido entre o axé baiano e o frevo pernambucano, quando deveríamos estar com o carnaval maranhense no coração. Estão fazendo tempestade em copo d´água com essa negócio de passarela – todo ano é a mesma coisa. Todo mundo de braço cruzado esperando a Prefeitura montar passarela e dar dinheiro. E não compensa desfilar de graça pra Prefeitura. Pra quê? Se não houver passarela, não vai influenciar em nada nosso desorganizado carnaval. E quem paga mesmo (e bem) é o Estado, para os grupos fazerem os circuitos de rua. Agora, o que se deve reclamar é que esse mesmo Estado cortou metade dos valores dos grupos locais para trazer grupos baianos e cariocas. Aí, sim.
    William Moraes Corrêa

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Credibilidade é o nosso maior patrimônio

Nosso objetivo é fazer jornalismo com seriedade, produzindo conteúdo regional, sobre política, economia, sociedade e atualidade, na forma de opinião, editorial e criticas.

Não somos o primeiro a divulgar a informação, mas somos quem apresenta o conteúdo checado, aprofundado e diferenciado.

Noticias qualquer um pode divulgar, mas com apuração e seriedade só aqui.

Jornalista Abimael Costa