A depressão e seus novos desafios - Ruy Palhano*


A depressão e seus novos desafios


Por: Ruy Palhano* 





                                                                                  POR: RUY PALHANO*
                                                                                     *PSIQUIATRA
                                                                 E-MAIL: RUY.PALHANO@TERRA.COM.BR






Talvez não haja, entre as doenças mentais, uma que cause mais sofrimento e dor do que a depressão. Alguns dizem: 'Eu não desejo isso, nem para o meu pior inimigo'; outros: 'O que sinto é como se meu peito estivesse se fechando'; e, ainda: 'A sensação é que estou me acabando ou que vou morrer'. Essas expressões falam mais alto que qualquer coisa e traduzem bem o que uma pessoa sente nesses momentos. Para os filósofos da antiguidade, a depressão era considerada uma das piores e mais sofridas experiências humanas e é isso que testemunho ao longo de minha experiência como psiquiatra.

A depressão é, na atualidade, muito debatida pela grande mídia e uma das doenças mais investigadas pela neurociência, especialmente no que diz respeito a sua origem e ao seu tratamento. Há quem diga que vivemos na era da depressão, sua incidência é tão grande na população que poucos são os que não experimentaram uma crise depressiva ao longo da vida.

Recentemente, a Organização Mundial da Saúde – OMS publicou um documento informando que até 2030 a depressão será a doença mais comum do mundo, que afetará mais pessoas do que o câncer e as doenças cardiovasculares. Portanto, constituir-se-á como um dos mais importantes problemas de saúde pública que haveremos de enfrentar. Pelo fato de ter alta incidência na população, provoca um imenso interesse pelos neuropsiquiatras, tanto no sentido de elucidar suas causas, quanto de se descobrir novos meios de tratamento.

Depressão é uma condição que incide em diferentes etapas de nosso desenvolvimento: infância, adolescência, entre adultos e idosos e, em cada uma dessas fases da vida, apresenta características clínicas próprias e com taxas de prevalências distintas.

Estima-se que a taxa esteja em torno de 4,5% a 8%. Considerando-se esses índices, São Luís, com uma população estimada de 1 milhão de habitantes, teríamos entre 45.000 a 80.000 pessoas com depressão. No Maranhão, com população estimada em seis milhões, haveria entre 270 e 480 mil pessoas. Finalmente, no Brasil, estima-se que a prevalência gire em torno de 16 milhões de pessoas depressivas.

Clinicamente, o curso natural da depressão é lento e insidioso, isto é, a pessoa vai desenvolvendo a doença lentamente, muito embora se saiba que existam crises agudas de depressão. Os sintomas são difusos e transitam desde queixas corporais a sintomas psíquicos e emocionais: apatia, retraimento social, medos difusos e vagos, falta de prazer no que se faz, desinteresse total, tristeza inexplicável, falta de esperança, insônia, choro frequente, aumento ou perda de peso e angústia reveladas por opressão e aperto no peito, agonia, desespero e sensação desagradável de apreensão.

Para os existencialistas, a angústia revela uma experiência metafísica, transcendente, através da qual o homem toma consciência do seu ser, para os depressivos, é um inferno a dor que sentem.

De fato, só quem passa por uma experiência depressiva é capaz de avaliar o sofrimento que essas pessoas sentem. Não raro, é tanto o sofrimento que alguns recorrem ao suicídio, tal o grau de desespero ocasionado pelo distúrbio. É uma das poucas enfermidades humanas em que o sujeito quer se livrar de si mesmo para escapar de tanta dor e sofrimento. A depressão é uma das mais importantes causas de suicídio, atingindo índice em torno de 70% dessa ocorrência.

A depressão é uma doença recorrente, isto é, se não houver prevenção de recaída ela tende a reaparecer, daí por que, associado ao tratamento propriamente dito, recomenda-se prevenir a recaída, especialmente para quem já teve pelo menos duas crises depressivas na vida. É uma doença de base genética, embora outros fatores psicológicos e ambientais possam influenciar enormemente sua manifestação clínica.

Um aspecto muito importante nos dias atuais é a evolução do tratamento da doença, pois com o surgimento de modernos medicamentos antidepressores que impedem a manifestação da doença e de técnicas de estimulação cerebral profunda e superficial, como a estimulação magnética transcraniana – EMT e outras técnicas, a possibilidade da recuperação e reabilitação plena é um fato real. Além do mais, as modernas técnicas de psicoterapia associadas à conduta médica ajudam mais ainda os enfermos.

Enfim, eis a depressão que tantos temem. Apesar de tudo, é uma doença que tem jeito e cura, basta que saibamos manejá-la e tratá-la corretamente, sendo esses os grandes desafios a serem enfrentados pela psiquiatria e pela neurociência contemporâneas.

* Ruy Palhano 

PSIQUIATRA Ruy Palhano Silva


MÉDICO NEUROPSIQUIATRA, PROFESSOR DE PSIQUIATRIA DO CURSO DE MEDICINA DA (UFMA),
 MESTRE EM CIÊNCIAS DA SAÚDE (UFMA),
 ESPECIALISTA EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA PELA (UNIFESP),
EX - PRESIDENTE DA ACADEMIA MARANHENSE DE MEDICINA.
RUY.PALHANO@TERRA.COM.BR

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