O USO E ABUSO DAS NARRATIVAS COMO FORMA DE LUTA PELO PODER













As narrativas como forma de luta pelo poder foram usadas hoje de forma muita clara e intensiva.

Analisando os acontecimentos desta sexta-feira (15), fica explicito que cada movimento e ação foram milimetricamente pensadas e preparadas.

Não foi por acaso que Joaquim Barbosa escolheu o dia 15 de novembro para decretar a prisão dos condenados pela ação 470.

Também não foi a toa que José Dirceu e José Genoíno levantaram os punhos cerrados, para a geração da esquerda da década de 1960 este ato é um sinal de luta, de resistência.

A dupla – Smith e John Carlos que levantaram os punhos serrados com luvas pretas, repetindo o gesto dos “panteras negras”. Naquele momento a ação dos atletas simbolizava a luta pelos direitos civis dos negros estadunidenses nos pódios olímpicos. Pelo ato político a dupla foi expulsa das olimpíadas.

No momento em que o mundo estava em guerra pelos direitos dos negros, as olimpíadas do México tentava promover a paz. Os atletas negros que estavam na capital mexicana ganhavam fôlego nos Estados Unidos e até cogitavam boicotar os jogos.

Para quem participou da competição atrás de glórias, os quase 2.500 metros acima do nível do mar, era perfeito para a quebra de recordes. No entanto, o esporte naquela ocasião não conseguiu se desvincular dos movimentos sociais e, por conta disso, os resultados foram deixados em segundo plano.

A prova dos 200 metros se tornou inesquecível para os amantes do esporte. Claro, que não foi por causa do belo resultado de Tommy Smith ao bater um novo recorde de 19sg e 83cs, mas durante a premiação a dupla – Smith e John Carlos – levantou os punhos serrados com luvas pretas.

Aquele gesto era o símbolo dos “panteras negras” e naquele momento a luta pelos direitos civis subia aos pódios olímpicos. Como consequência daqueles gestos, a dupla foi expulsa das olimpíadas noutro dia, mais um australiano que abraçou a luta.

As olimpíadas do México ficaram marcadas como as “olimpíadas das perseguições” e foi repleta de triunfos dos negros. Era a vitória de uma raça!

Não foi a toa portanto que Genoíno e Zé Dirceu repetiram o mesmo gesto de sua geração ao serem presos injustamente.

Da mesma forma que, infelizmente não foi a toa que a mídia deturpou, ignorou e manipulou as narrativas oferecidas pelos protagonistas da história. Eles criaram suas próprias narrativas como forma de distorcer os fatos e formar uma nova e falsa imagem tanto de um lado quanto do outro. 

Exatamente por isso hoje a jornalista Ana Helena Tavares escreveu:

Um dia triste para quem escolheu o jornalismo como forma de luta e não como forma de luz. A sociedade do espetáculo se regozija com sua própria desgraça. A República é apunhalada no dia de sua proclamação. E o Brasil permanece o país do faz-de-conta. 

Como jornalistas que somos, temos a grande responsabilidade de saber interpretar, ler e reescrever as muitas narrativas presentes no mundo pós moderno.

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