Dona Ana e o poder da comunicação





Enquanto enfrentava uma longa fila em uma casa lotérica nesta segunda-feira, fui atraído por uma senhora de fácil conversa, simpática e bem articulada, aquela senhora a quem chamarei de “ANA”, dizia ter mais de setenta anos e conversava alegremente com os ilustres desconhecidos que estavam na fila aguardando para serem atendidos.

Chama atenção o velho e surrado chapéu de palha que ela traz na cabeça, já que não é comum ver mulheres usando este tipo de chapéu. Com um vestido florido e chinelo de dedo nos pés, aquela senhora de nome desconhecido e rosto sofrido, revive um comportamento há muito abandonado pelo moradores dos grandes centros urbanos.

Puxar conversa com quem está do lado, cumprimentar as pessoas com um forte e caloroso bom dia, boa tarde, boa noite, usar as palavras, obrigado, com licença e até logo, são hábitos antigos que aos poucos foram sendo abandonados e hoje caíram totalmente em desuso. 

Os motivos para que isso ocorra são muitos, entre eles estão os inúmeros afazeres e compromissos do dia a dia que fazem da vida uma maratona cansativa e estressante. O medo da violência que torna as pessoas mais seletivas, solitárias, e como resultado de tudo isso, muitos preferem não falar, não conversar, com quem está sentado do seu lado no ônibus, na fila ou qualquer outro espaço público É melhor colocar o fone de ouvido, fechar os olhos relaxar e ouvir a musica preferida, folhear o jornal do dia, ler uma revista, revisar assuntos da faculdade, falar ao celular ou enviar mensagem de texto, do que falar com que está do lado,muitas vezes sequer olhamos do lado.

Frios, solitários, egoístas e fechados em um mundo cada vez mais individualista e particular, cada um vive sua realidade única, e pessoal, cada um vive seu próprio “MATRIX”. Por mais triste e desanimador que possa parecer, parcela significativa da população dos grandes e médios centros urbanos, adotam e estão completamente adaptados este tipo de comportamento.

Com toda sua simplicidade e até de forma ingenua porém muito espontânea, Dona Ana desabafa, conta seus causos, suas histórias, interage com as pessoas e com isso, consegue ser vista e percebida por todos. o papo serve para descontrair, desarma os espíritos, e faz o tempo passar sem que percebamos.  

Aquele modo simples e desinteressado de falar, a espontaneidade e o carisma daquela senhora pobre, sofrida e analfabeta me deixou uma lição, ganhei o dia, afinal em um mundo cada vez mais culto, com tantos mestres, doutores e PHDS cada dia mais fechados e ocupados com suas teses, pesquisas e artigos científicos, o empirismo e o senso comum de uma cabocla maranhense consegue demonstrar que nem tudo está perdido, ainda existe uma luz no fim do túnel.

Dona Ana mostrou seu poder de sedução e de convencimento. Ela é uma comunicadora nata, e conseguiu com maestria alcançar seu objetivo.

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