São Luís já contabiliza 1.000 mortes violentas intencionais em 2015




Se o cidadão maranhense levar em conta o que diz a propaganda oficial do governo do Estado, paga com impostos recolhidos do bolso deste mesmo cidadão, vai ter a falsa impressão de que vivemos no paraíso, todos os problemas sumiram, a violência foi eliminada, a criminalidade está contida e a paz reina no Maranhão.  

Enquanto os jornais Pequeno, e O Imparcial, blogues, portais de noticiais, emissoras de radio e de televisão alinhados ao governo do Estado do Maranhão reproduzem releases da SECOM, estampam nas capas longas entrevistas ditas "EXCLUSIVAS" com o governador do Estado e secretários de Estado, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), denuncia o terrível número de 1.000 mortes violentas intencionais na Grande São luís no ano de 2015. 
“A juventude negra tem sido a maior vítima da violência letal. Isso demonstra que o poder público não cumpre a política de prevenção dessa forma de violação de direitos, como determina o Estatuto da Igualdade Racial."
Promotor de Justiça da Infância e da Juventude de São Luís, Márcio Thadeu Silva Marques



“Basta! Violência se enfrenta com indignação, com reconhecimento de direitos, com distribuição de renda, com escola, com cidadania. Precisamos assumir a dor da nossa cidade, e tirá-la desse caos de sangue e horror em que a transformaram!”. Joisiane Gamba, representante da SMDH

A Grande São Luís (região composta pela capital maranhense e os municípios de São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa) já contabiliza, somente no ano de 2015, o terrível número de 1.000 mortes violentas intencionais.

A informação consta no relatório sobre a violência na região, produzido pela Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), a partir do monitoramento dos veículos de comunicação e dos dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado.

“Diante deste quadro dramático, e levando em consideração que a maioria das ocorrências aconteceu em bairros da periferia, tendo como alvo a população pobre, considero serem fundamentais mudanças estruturais urgentes, que alterem o quadro de desigualdades”, avalia Joisiane Gamba, membro do conselho diretor da SMDH.

A advogada destaca, ainda, que este número representa quase três vítimas fatais de crimes violentos por dia na região metropolitana. A maior parte destas ocorrências – mais de 77% – são homicídios dolosos. Também são contabilizados casos de latrocínio, lesão corporal seguida de morte, homicídios decorrentes de intervenção policial, dentre outras situações.

“Destas mortes, 20,8% são pessoas entre 10 a 19 anos, e estes são dados apenas da Grande São Luís. Todos nós estamos chamados a intervir, a nos indignarmos, a trocarmos a tranquilidade dos condomínios fechados, a deixarmos de nos proteger atrás dos muros, [apenas] vendo nossa cidade se deteriorar, a nossa juventude ser morta e a população jovem e negra ser exterminada”, conclama a defensora de direitos humanos.

“O governo precisa deixar de gastar mais em aparato repressivo do que em educação, saúde, lazer, moradia e trabalho. Os agentes de segurança e justiça têm que parar de tratar o pobre como inimigo de estado, humilhando nossas crianças e adolescentes, afastando-as cada vez mais das políticas públicas, e lhes apontando como alternativas o cárcere ou o cemitério”, critica.

Para o promotor de Justiça da Infância e da Juventude de São Luís, Márcio Thadeu Silva Marques, os dados demonstram que o poder público descumpre a lei que institui o Estatuto da Igualdade Racial:

“A juventude negra tem sido a maior vítima da violência letal. Isso demonstra que o poder público não cumpre a política de prevenção dessa forma de violação de direitos, como determina o Estatuto da Igualdade Racial. Para que [esta situação] não se torne um etnocídio, é preciso garantir a segurança cidadã, a viabilização de programas estaduais de proteção e o enfrentamento das questões criminógenas estruturantes. Fiscalizar os sistemas de Segurança e de Justiça em favor da dignidade humana, e não como mecanismo de dominação social, é o desafio da cidadania”, aponta o promotor.

O depoimento do pastor Ozéas de Araújo Ewerton Júnior, da Igreja Batista do Monte Castelo, reflete a perplexidade com que a população vê a escalada da violência na ilha de São Luís: “A nossa sociedade vivencia um grande paradoxo, mesmo com todos os avanços econômicos, científicos e tecnológicos alcançados não se conseguiu dirimir significativamente os dilemas e problemas sociais. [A violência] já se tornou comum e banalizada. Não indigna, nem causa espanto. As estatísticas são aterrorizadoras. […] Todos, sociedade e governo, somos responsáveis em alguma medida por essa realidade cruel. Não é hora de acusarmos, é tempo de nos juntarmos, caso contrário o ódio, a dor, a desesperança e a morte continuarão dizimando vidas e famílias de nossa querida Ilha”.

Joisiane Gamba, representante da SMDH, sintetiza: “Basta! Violência se enfrenta com indignação, com reconhecimento de direitos, com distribuição de renda, com escola, com cidadania. Precisamos assumir a dor da nossa cidade, e tirá-la desse caos de sangue e horror em que a transformaram!”.

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