quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A história de um visionário que viveu à frente de seu tempo

De Antonio Gago a Antonio Crente 

Por: *Abimael Costa


Ele nasceu no segundo sábado do ano de 1921, mais precisamente em 08 de janeiro, no município piauiense de Esperantina. Filho do lavrador Manoel Pereira da Silva e da dona de casa Maria Ana da Costa, Antonio Pereira da Silva cresceu na zona rural, e como seus cinco irmãos, aprendeu cedo que para sobreviver era preciso trabalhar duro, de sol a sol, lavrando a terra e tirando dela o seu sustento.

Como a maioria das crianças pobres de sua época, ele não teve a oportunidade de frequentar uma escola, ou de pelo menos se alfabetizar, já que a missão era cuidar da terra e lutar pela subsistência.
Ainda criança acompanha a família que migra para o Maranhão, mais precisamente para a localidade Caxuxa, hoje Alto alegre do Maranhão. Lá continuam trabalhando na lavoura. Anos depois mudam para o município de Coroatá, no povoado Estiva, o objetivo é plantar arroz e morar na região.

Aos 14 anos, em  1935 - Antonio Pereira contrai matrimonio com Maria Rodrigues Sousa, com quem convive até 1958, da união nasceram 06 filhos. Francisco, Mascena, Teresa, Toinha, Manoel, João Batista e Dudé. 

Nascido em uma família de tradição católica, Antonio Pereira se torna devoto de Santo Antonio, e participa de toda a liturgia da igreja  -  ele foi batizado, crismado, fez primeira comunhão e casou-se no religioso.  Conhecido como Antonio gago, era chegado a uma cachacinha. 

Em janeiro de 1958 converte-se ao protestantismo, torna-se evangélico, vira CRENTE. A partir de então decide mudar de vida, para de ingerir bebida alcoólica e de fumar. Analfabeto e gago, ele compra uma bíblia e logo aprende a ler e a escrever através da leitura dos textos sagrados. Recebe a oportunidade de testemunhar, ou falar aos fieis sobre sua vida, e em pouco tempo perde a gagueira e passa a falar normalmente.   

Enfrentando problemas no casamento devido a conversão, ele se vê obrigado a separar-se de Maria Rodrigues de Sousa, com quem viveu 23 ANOS. Sai de casa só com a roupa do corpo e vai começar a vida do ZERO.

Ainda morando na Localidade Estiva, município de Coroatá, onde continuou trabalhando na roça e lavrando dormentes para a estrada de ferro S. Luís/Teresina, um certo dia quando capinava uma roça, sentiu forte dor nas costas, e ali chorando por conta da dor, prometeu que deixaria a vida de agricultor. 

Em 1 de dezembro de 1962 ele casa novamente,  desta vez com a piauiense Raimunda das Chagas da Costa. Filha de Inácio Camilo da Costa e Maria das Chagas Rocha da Costa, ela é 23 anos mais nova que ele.  

O casal passa a residir no povoado Livramento, município de Coroatá, localizado as margens da BR-316. Lá ele decide começar a vida vendendo verduras e frutas em um carro de mão, a venda porta a porta. O novo negócio próspera e as mercadorias agora passam a ser adquiridas no município de Pedreiras e revendidas em casa, onde montou um pequeno e improvisado ponto comercial.

Aos poucos vai mudando de atividade comercial e passa a investir no varejo de secos e molhados, já com uma pequena mercearia consegue se estabelecer formalmente como comerciante. Em 1965 nasce Abimael o primeiro filho do segundo casamento, em 1967 nasce Miriam, e em 1970 Mirianildes. 

Em uma viagem de negócios para São Luís, no inicio de 1970, ao passar por Miranda ele se encanta pelo lugar. Dias antes em um sonho ele viu as ruas de Miranda e uma voz lhe dizia ser aquele ele o lugar onde deveria viver. 

Ao voltar da viagem, chega em casa empolgado e decidido a mudar para a cidade dos sonhos sem demoras. Em junho de 1971 chega em Miranda, aluga uma casa do Sr. Cirilo, na Rua do Sol, próximo a rua do passeio, onde hoje mora Reinaldo do PSB. Ali instala seu comércio. Desconhecido na cidade, enfrenta dificuldades, já que a mercearia não rende o esperado.

Com três filhos, sem profissão e forasteiro, não tinha a quem recorrer, ou onde buscar ajuda. Decide então fechar o comércio e vender os equipamentos -  balança, balcão, prateleiras, cofre, e o saldo de mercadorias - para sobreviver, chegou a se desfazer do relógio de pulso - um Seiko - do qual nunca tinha se apartado.


Para fugir do aluguel, e aproveitando que ainda tinha algum dinheiro, compra uma casa na Rua do Comercio, 2065, próximo a Rua 13 de Maio. Na verdade comprou apenas o lugar, porque a casa estava praticamente destruída. Muda para o novo endereço e passa a trabalhar par tornar o local habitável. Logo depois da mudança, ainda em 1971, nasce Mirinalva.

Agora aos 50 anos, sem profissão e sem estudo formal, com quatro filhos e uma mulher, busca uma forma digna de sobreviver, decide abrir um pequeno restaurante, passa a fazer uma CARNE DE SOL, que em pouco tempo conquista vasta e fiel clientela, nasce aí o Restaurante Santo Antonio que por mais de duas década esteve entre os melhores da região.

Visionário, percebe que os clientes buscam um lugar para pernoitar e não encontram. Com amplo espaço na casa, decide investir em dormitório, aos poucos vai criando os espaços, mudando e adequando o ambiente. Em pouco tempo o Restaurante e Dormitório Santo Antonio se estabiliza. Com o passar do tempo desiste do restaurante e amplia o dormitório que passa a chamar se Hotel do Crente.

A família aumentou, Além de Abimael, Mirian, Mirinalva, e Mirianildes, vieram mais três filhos, Antonio Filho, Enoque e Miran. Antonio Pereira manteve-se firme ao evangelho, durante 36 anos auxiliou o pastor Manoel  Bentivi Filho na Assembleia de Deus em Miranda do Norte. 


Curioso e autodidata, gostava muito de ler, cursou o Telercurso 1º e 2º grau, -  equivalente ao ensino básico e médio de hoje - sendo aprovado com louvor. Muito chegado a temas polêmicos, teve participação ativa na vida política do Estado e do município. Foi candidato a vereador mas não obteve exito. era admirador de José Sarney, João Castelo e Alexandre Costa. Em Miranda esteve ao lado de Luis Bonfim.

Comunicador nato,  ainda na década de 70, comprou um amplificador caseiro, um microfone, uma radiola, 04 bocas de alto falantes, três peças de madeira,  montou um estúdio amador, e fez uma VOZ, ou SERVIÇO DE ALTO FALANTE. que funcionava de segunda a segunda de 5 as 6 da manhã e de 6 as 7 da noite. A prioridade era tocar hinos evangélicos e ele fazia as pregações. Também divulgava avisos de utilidade pública e comunicados. 

Em 03 de setembro de 2007, aos 86 anos de idade, Antonio Pereira da Silva foi chamado para a eternidade, encerrou seu ciclo neste plano material, não sem antes deixar um amplo legado de abnegação, determinação, fé, garra, e inovação. 

Visionário, soube se reinventar, venceu através da fé, ressurgiu das cinzas inúmeras vezes, superou todos os obstáculos, sempre acreditou que a única opção era vencer. Escreveu bravamente seu nome na história, e será eternamente lembrado e reverenciado como aquele que apesar de tudo não se acovardou, não recuou e não voltou atrás. 

O corpo de Antonio pereira da Silva está sepultado no Cemitério Municipal de Miranda do Norte e sua memoria preservada e eternizada por aqueles que o amam.    

Dez anos depois de sua partida, escrevo esta breve e singela biografia como uma pequena homenagem ao meu pai, um homem especial e que marcou minha vida de forma impactante. Pai coruja assumido, ele sempre teve muito orgulho deste filho, não esquecerei seus esforços, sacrifícios, tempo e recursos dispendidos em meu favor. Seu sonho era me ver formado - GRADUAÇÃO SUPERIOR CONCLUÍDA. 
       
Antes que eu completasse uma ano de vida, ele comprou um dicionario e várias coleções de livros e guardou para que eu ESTUDASSE neles no futuro. Durante muitos anos, sempre que chegava visita em nossa casa eu era o escolhido para ler trechos da bíblia, jornais, ou livros.   

*Abimael da Costa Pereira, filho de Antonio Pereira da Silva e de Raimunda da Costa Pereira.

*Jornalista especialista em Assessoria de Comunicação    
              


Há homens que lutam um dia, e são bons;Há outros que lutam um ano, e são melhores;Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;Porém há os que lutam toda a vidaEstes são os imprescindíveisBERTOLT BRECHT

                        

   

               
                                

     

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Jornalista Abimael Costa