Invisibilizados e marginalizados, meninos acorrentados são vítimas do Estado e da sociedade


Famílias como a dos dois garotos mantidos em cárcere privado, encontrados pela polícia, acorrentados e sem direito alimentação, dentro de uma casa humilde em uma região pobre da zona rural de São Luís, existem aos milhares em São Luís e em todo o estado do Maranhão. ENTENDA O CASO 

Relegados a própria sorte, esses indivíduos são excluídos e marginalizados por uma sociedade egoísta, narcisista e preconceituosa e por um Estado apático, conivente, desumano e criminoso. 


Mantidas na invisibilidade por pura conveniência do sistema, eles só aparecem quando são protogonistas de dramas e tragédias. Aí ocupam as páginas polícias e as chamadas de destaque dos programas policialescos e populares. Quase sempre sem nenhuma proteção, são rotulados como párias e marginais, tornando-se assim duplamente vítimas de discriminação e preconceito.

Isso tudo é provocado pela decisão da mídia em abusar da espetacularização da notícia. O objetivo principal é sair na frente, publicar primeiro e assim, liderar o número de likes, acessos, leitores, ouvintes e espectadores.  

A apuração rasa e superficial enfoca apenas o lado policialesco do caso, para isso é preciso encontrar um culpado, dar a ele um rótulo, destacar a, ou as vitima sempre com rótulos apelativos, é pronto, a fórmula da notícia como produto de mercado vendável está concluída com sucesso.          
Ao invés de expor a mãe dos meninos com rótulos preconceituosos, porque  não questionar onde estavam os órgãos estatais responsáveis pela proteção e defesa de crianças e adolescentes, as muitas ONGs e grupos do terceiro setor que trabalham nas periferias.

Os CONSELHOS ESTADUAL e MUNICIPAL de Defesa da criança e do adolescente, os programas sociais que visam resgatar a cidadania e a dignidade de famílias como essa, a turma responsável pela busca ativa, ninguém conseguiu localizar as vítimas? Em que escola os meninos estudam? o conselho tutelar mesmo provocado não conseguiu evitar o pior, porque? 

A verdade é que a tão propagada rede de proteção  social falhou, mesmo irrigada por vultosos recursos públicos não conseguiu evitar que a mãe perdesse o controle da situação.   

Uma simples ligação anonima, talvez feita por um vizinho incomodado com a situação, levou a polícia ao local.  A partir de então, a mãe passou a ser crucificada por manter os filhos presos, apesar de alegar que trabalha em uma pequena banca de café na Cohab, e que os garotos praticavam pequenos roubos na região, e que já não tinha controle sobre eles, mesmo tendo procurado o conselho tutelar, nada foi feito para solucionar o caso.       

O desfecho do caso, é que os meninos foram enviados para um abrigo, o tio que estava na casa no momento da ação policial está preso, e a mãe está sendo ouvida pela polícia.    

As causas desta tragédia, como a de todas as que já caíram no esquecimento,  são rapidamente varridas para debaixo do tapete, não interessa discutir tal tema, os responsáveis e culpados - Estado e sociedade - se eximem de suas culpas, a mídia elege os pais e familiares como monstros culpados de todo o caos, e a vida segue seu rumo, as mesas fartas, as ceias abastadas, a distribuição de cestas básicas e as mensagens de Boas Festas e Feliz 2019 inundam as redes sociais. 

Elizetes, Luizes e milhares de meninos que vivem em situação de abandono, miséria e exclusão seguirão estereotipados, invisibilizados e discriminados.              


Não é fácil construir uma sociedade igualitária que evite a ruptura dos laços familiares, eduque de forma adequada as crianças, diga não às drogas, encontre alternativas às cadeias, acabe com as armas e aplique justiça com isenção.

Não existem soluções mágicas. Elas dependem do envolvimento de cada um de nós na educação das crianças nascidas na periferia do tecido social. Enquanto não aprendermos a orientar os pais e a oferecer-lhes medidas preventivas para que evitem ter filhos que não serão capazes de criar, cabe a nós a responsabilidade de integrar essas crianças na sociedade por meio de educação formal de bom nível, práticas esportivas e oportunidade de desenvolvimento artístico.

A sociedade atual é marcada pelo individualismo e pelo consumismo. Por consequência é uma sociedade que gera uma gama elevada de indivíduos marginalizados e submetidos a níveis de pobreza e de desigualdades bastante significativos. 

Essa conjuntura leva à ruptura de alguns valores importantes e de instituições tradicionais, como, por exemplo: a família. Marcados pela miséria, exclusão, deseducação, falta de valores éticos e morais, bem como da ausência de direitos mínimos para se viver dignamente, muitos indivíduos têm enormes dificuldades e, em consequência, ocorre, muitas vezes, a desestruturação familiar. 



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