FIM DE UM CICLO? Acensão, glória e ostracismo de Zé Martinho (KABÃO)




FIM DE UM CICLO?
Por: *Carlito Amaral 

Vários seriam os títulos da sétima arte, para definir o momento, que o ex-prefeito de Cantanhede, Zé Martinho (KABÃO) vive, entre eles, "A Queda", "O Último dos Moicanos", "O Último Czar" e "Titanic". Na verdade, esse último, é o mais emblemático rótulo para o momento. 

Mas se vasculharmos a MPB e aterrissarmos no ano de 1972, quando Zé Martinho ecoava seus primeiros gritos de "olha a banana, olha a pitomba, olha o tomate", pelas ruas empoeiradas da terra natal, a mais cabível trilha sonora para esse epílogo, seria "José" do poeta mineiro de Itabira, Carlos Drummond de Andrade e cantada pelo pernambucano de Pesqueira, Paulo Diniz.

- "E agora, José?

A festa acabou,

A luz apagou,

O povo sumiu,

A noite esfriou,

E agora, José?

E agora, você?"

Nascido de uma família humilde, o pai vaqueiro e a mãe costureira, Zé Martinho sentiu ainda muito jovem a vontade de crescer no amor, nos negócios e na política. 

Quando chegou a maior idade, pregava aos ouvidos de um professor três grandes conquistas de sua trajetória: casaria com uma loira, ficaria rico e seria prefeito de Cantanhede.

Trabalhou como auxiliar de pedreiro e ingressou na Polícia Militar, onde foi estampa de jornal pela primeira vez, ao ser acusado de proteger uma esquema de corrupção, no início da década de 1980. Em 1992, sem base de causas sociais e com uma campanha milionária, foi eleito vereador, na base do ex-prefeito, Hilton Rocha com 176 votos e um caríssimo terceiro lugar.

O seu mandato como parlamentar foi marcado por perseguições ao ex-prefeito, Cidinho Amaral e seus aliados. Em 1996, foi eleito vice-prefeito ao lado de Hildo Rocha, na chamada dupla café com leite.

- "Você que é sem nome,

Que zomba dos outros,

Você que faz versos,

Que ama, protesta?

E agora, José?"

No ano de 2000, adoçou novamente a aliança política e foi reeleito vice-prefeito na mais expressiva vitória da história política do município de Cantanhede com mais de 82% dos votos válidos.

Em 2004, quando se portava como escravo intelectual e se preparava para emplacar sua candidatura de prefeito sofreu uma rasteira política do mito-mor e chorou no ombro de amigos de infância a interrupção do terceiro sonho. 

Mas como diria o deputado Líster Caldas: "a política só não faz o homem parir, mas faz o boi voar". 

Chega o ano de 2008 e Zé Martinho sai da senzala eleitoral para glória como feitor da comoção social e em confronto com o ex-aliado é eleito com 5.391 votos, 2.497 votos, 30% a mais que o adversário. 

Em 2012, a disputa se repete com um argumento conjugal e mais uma vez, mesmo com apenas 157 votos a mais do montante de 2008 e 1.577 (16%) de diferença, o vendedor de pitomba aplica mais uma derrota no ex-líder e é reeleito com 5.548 votos.

Em 2016, com 8 anos no poder e o desgaste popular com uma reprovação de 79%, o prefeito que pregava o lema "Nossa terra. Nossa gente" foi destronado e de lá para cá caiu no abandono da classe política e de companheiros mais próximos. 

- "Está sem mulher,

Está sem carinho,

Está sem discurso,

Já não pode beber,

Já não pode fumar,

Cuspir já não pode,

A noite esfriou,

O dia não veio,

O bonde não veio,

O riso não veio

Não veio a utopia

E tudo acabou

E tudo fugiu

E tudo mofou,

E agora, José?"

Em 2018, participou das eleições gerais como a terceira força política de Cantanhede e passou a contemplar perdas significativas na sua base eleitoral. 

Os 8 anos de prefeito pelo retrovisor tem sido uma corda em seu pescoço. São mais de 30 ações do MP devido os inúmeros convênios que nunca prestou conta e pelas dívidas deixadas com previdência e fornecedores. Somadas a isso aparecem três contas reprovadas pelo TCE. 

A situação no Tribunal de Contas do Estado tem gerado uma incógnita constante na cabeça do empresário da noite ludovicense. O exemplo de desespero jurídico, mais claro foi a tentativa de um advogado em estancar a guilhotina da inelegibilidade de KABÃO. 

A defesa do ex-prefeito chegou a entrar com dois pedidos de recurso de reconsideração no mesmo processo (3904/2011). O tribunal terá agora que julgar o seu último recurso e se confirmar, o ex-prefeito ficará inelegível pelo órgão fiscalizador e dependerá de 8 votos da Câmara de Vereadores para mudar o resultado.No TCE todas as suas derrotas até o momento, foram por unanimidade.

Voltamos ao Titanic e recordemos a cena onde a água no pescoço é sem dúvida a melhor imagem para simbolizar o fim de um ciclo político.

Sem força na classe política e com o tom abatido, Zé Martinho faz um chamado para uma reunião de avaliação de sua pré-candidatura neste sábado, às 10h da manhã. Entre os poucos aliados, há quem comece a admitir uma jogada de toalha em favor do outro candidato de oposição, o empresário Maranhão.

Simpatizantes da terceira via sinalizam uma provável aliança com o ex-gestor, mas desde que esse seja apenas um mero apoiador como aconteceu em 2004.

O cenário começa a ser desenhado e nas rodas de conversa, o assunto mais comentado tem sido Zé Martinho atolado em processos e ficando sem apoio da classe política.

- "Sua doce palavra,

Seu instante de febre,

Sua gula e jejum,

Sua biblioteca,

Sua lavra de ouro,

Seu terno de vidro,

Sua incoerência,

Seu ódio - e agora?


E AGORA, JOSÉ MARTINHO DOS SANTOS BARROS?

*Carlito Amaral é chefe de gabinete da Prefeitura Municipal de Cantanhede   

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