Duas cidades da França irão prestar homenagem a Daniel de la Touche, o fundador de São Luís


Cidade fortificada de Saint-Malo (pronuncia-se San Malô)

Saint-Malo e Cancale ficam na região da Bretanha, lugar de influência e residência do general francês na virada do século XVI para o XVII. O Maranhão e o Pará enviarão comitivas. O pesquisador e escritor Antonio Noberto será um dos palestrantes do evento

POR: ANTÔNIO NOBERTO*


Diz a sabedoria popular que “antes tarde do que nunca”, frase perfeita para o evento que acontecerá no próximo mês de maio nas cidades bretãs de Saint-Malo (pronuncia-se Sã Malô) e Cancale, localizadas a nordeste daquela importante região da França, bem vizinhas a um dos pontos turísticos mais famosos e encantadores do país, o Monte Saint-Michel.

O evento contará com extensa programação, que se desenvolverá nas duas cidades, sendo exposição de imagens da época e atuais de São Luís; palestras, apresentações culturais, dentre outros. É grande a expectativa de público e de mídia nos três dias de programação, 5, 6 e 7 de maio.

COMITIVAS

O escritor ludovicense Antonio Noberto ministrará palestra no dia 6 de maio, quando abordará a contribuição de Daniel de la Touche na relação França Maranhão. O vereador Aldir Junior representará a Câmara Municipal da capital maranhense. Existe a expectativa da ida de uma delegação do Pará, da cidade de Cametá, às margens do rio Tocantins, visitada por La Touche de la Ravardière naquele mesmo período. A expectativa é que o prefeito e uma boa representação da Câmara Municipal de Cametá participem do evento.

O HOMENAGEADO

Daniel de la Touche, Senhor de la Ravardière, Lugar Tenente-General da França no Brasil e na América do Sul, é o descobridor e vice-rei das Guianas (1604) e o fundador da França Equinocial e da sua capital São Luís (1612), primeira cidade estabelecida no Brasil setentrional. A ele também coube a fundação da primeira cidade do Pará, Bragança (1613), na antiga terra dos caetés, localizada a nordeste daquele estado, e o reconhecimento de terras mais distantes como Cametá (à época Caamutá), Pacajá e tantas outras, quando pretendia chegar em terras mais distantes, na região tocantina maranhense e no Araguaia.

La Touche nasceu em 1570, na chamada França profunda, na pequenina cidade de Berthegon, com menos de 500 habitantes, na região do Poitou, distante dez quilômetros de Richelieu e a menos de cem quilômetros da capital da região, Poitier.

A mãe do pequeno Daniel, trabalhava na corte real, o que facilitou o trânsito do jovem poitevin junto ao poder. Após a virada do século, já possuidor de bens, o fidalgo protestante huguenote se casa com a jovem Charlotte de Montgomeri, filha do líder protestante da Normandia Gabriel, com fortes ligações com o rei da França e com o rei da Inglaterra.

Tomado pelo ímpeto da atração pelo mar, próprio de quem habitava as regiões da Bretanha e da Normandia, e de posse das cartas patentes transferidas pelo Senhor de Montbarrot, La Ravardière vende uma de suas propriedades localizadas próximo ao Mont Saint-Michel, e com a permissão do rei Henrique IV de Navarra, se aventura pelas terras das guianas, onde deixa o seu imediato, Robert le Fièvre de la Barre, acompanhado de alguns outros rouliers de la mer. Ele volta pela desembocadura do Amazonas, e faz descer uma sonda para saber se ali ainda era rio ou se já era mar. O seu cientista era ninguém menos que o médico do rei, Jean Mocquet, enviado para coletar plantas e enviá-las à corte. Algumas delas foram plantadas no Jardim das Tulherias, no fundo do então palácio do Louvre, hoje o maior museu do mundo.

Anos mais tarde, após a propaganda feita do Maranhão na corte pelo capitão Charles des Vaux de Turrena e Santa Maura, o rei de França e Navarra viu a oportunidade de aumentar seu reino. Ele enviou La Touche em 1609 às terras do Maranhão com o objetivo de fazer o reconhecimento e mapeamento da região e em seguida iniciar uma colônia no norte do Brasil, a França Equinocial. Tudo caminhava bem, até que um grande infortúnio dificultou o objetivo de uma colônia na porção setentrional do Brasil, o assassinato do rei Henrique IV em 1610 pelo fanático François de Ravaillac.

Sem poder contar mais com o rei finado, Daniel de la Touche passa a interessar ao projeto, católicos de peso que orbitavam a corte, a exemplo de François de Razilly, Senhor de Oaseaumelle, primo do futuro Cardeal de Richelieu, e Nicolas de Harlay, Senhor de Sancy, Barão de Moulle et Groisbois, financista da corte.

Após a implantação da França Equinocial, território que se estendia do Mucuripe (atualmente Fortaleza) ao Pará, com capital no Maranhão, o grande navegador teve o malogro na Batalha de Guaxenduba e, em seguida, foi levado para Pernambuco e para Lisboa, onde ficou recolhido na Torre de Belém, na condição de “convidado”, inclusive recebendo pensão do governo ibérico.

Após sua saída, ocorrida após pedido do rei da Inglaterra, Jaime I, tentou interessar outras nações para voltar ao Brasil, mas não obteve sucesso devido às rebeliões indígenas que aconteciam no norte do Brasil, sendo um risco para Porugal autoriza-lo voltar e novamente aliciar os silvícolas, apaixonados que eram pelo fundador da Nova França no Brasil.

Ele ainda voltou a guerrear no norte da África, mas finalizou seus dias na condição de pastor e de deputado do partido protestante na Bretanha.

A PARTIDA PARA O MARANHÃO

Renovadas as cartas patentes, La Touche de la Ravardière dividiu o título de Lugar Tenente-General com estes dois nobres. E no dia 19 de março de 1612 a esquadra partiu do porto de La Houle, na cidade de Cancale, vizinha a cidade fortificada de Saint-Malo, na bela região da Bretanha.

Chegados ao Brasil, demoraram alguns dias de julho daquele ano na Ilha Pequena (Upaon Mirim) rebatizada de Ilha de Santana, e em seguida desembarcaram na Ilha Grande (Upaon Açu), no porto de Jeviré, na Ponta da Areia.

Passados para um promontório ao lado, a Praça do Forte, com a ajuda dos tupinambás, construíram um grande forte em forma de cidadela (atual Praça Pedro II) e puseram-na o nome de São Luís, em honra ao rei santo Luís IX e em homenagem ao rei menino Luís XIII.

Sem perda de tempo, trataram das outras edificações e organização da colônia e de promover o ato de posse da terra, ocorrido no dia 08 de setembro de 1612, data da fundação de São Luís. Logo em seguida, iniciaram o reconhecimento dos rios, regiões e nações mais distantes.

SAINT-MALO E CANCALE

A cidade fortificada de Saint-Malo é muito conhecida pelo protagonismo na retomada da Europa das mãos nazistas, mas muitos brasileiros não sabem que desta bela cidade partiram importantes navegadores para a conquista do mundo, a exemplo de Samuel de Champlain, Jacques Cartier, Duguay-Trouin e tantos outros.

TRÊS CIDADES COIRMÃS, OPORTUNIDADES

A cidade corsária de Saint-Malo tem população de aproximadamente 50 mil habitantes, tendo sido construída pelos romanos no século I a.C. Já a cidade de Cancale possui 6 mil habitantes e dista apenas 12 quilômetros da capital corsária. Ambas recebem anualmente grande quantidade de visitantes, que buscam história, cultura e natureza. Faz algumas décadas que estas cidades buscam maior proximidade com a coirmã São Luís, no estado do Maranhão. O entrelaçamento é uma grande oportunidade não só no campo do turismo, mas uma possibilidade de incremento na área tecnológica, na engenharia, medicina, dentre outras.

Sobre as oportunidades perdidas, o consultor e ex-secretário de turismo de Saint-Malo, Jean-Claude Weisz, em palestra em São Luís, certa vez disse: “Vocês (ludovicenses) dormem sobre um tesouro e não estão sabendo”.

*Antônio Noberto é turismólogo, pesquisador e escritor. Dr Honoris Causa em História (FEBACLA), embaixador da Paz (OMDDH), membro fundador e ex-presidente da Academia Ludovicense de Letras (ALL), servidor federal (PRF), segundo vice-presidente da Cruz Vermelha no Maranhão, membro-fundador da AVLA, membro-fundador da seccional da Luminescence Academie Française (Vale do Loire, França). Idealizador e curador da exposição França Equinocial para sempre, melhor evento cultural voltado para os 400 anos de São Luís (Prêmio Cazumbá de turismo 2012).




Porto de la Houle (pronuncia-se Ula), em Cancale, lugar de onde partiu a esquadra francesa para a fundação da Nova França no Brasil com a capital em São Luís em 19 de março de 1612.


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