Miranda do Norte 36 ANOS: A história de Miranda do Norte sob a ótica do jornalista e historiador Léo Freire

UM POUCO DA SUA HISTÓRIA E UM SONHO FELIZ DE CIDADE



UM POUCO DA SUA HISTÓRIA E UM SONHO FELIZ DE CIDADE

⦁ Por Léo Freire Filho

Em meados do século XIX, na região setentrional do estado brasileiro denominado Maranhão, uma negociação de terras formatou o que mais de um século depois viria a ser um novo município brasileiro.

Um pedaço de chão, a apenas 125 km da capital maranhense, fundada por franceses, era habitado por uma rica família de portugueses, que por aqui empreendia forte atividade de lavoura, principalmente a cultura do arroz, tocada por mão de obra escrava. Devido à marcante presença dessa família na Economia local, o lugar teve incorporado à sua nomenclatura o sobrenome do seu abastado proprietário, sendo assim denominado: Olhos D´água de Miranda.

Tudo mudou com a morte do patriarca, o “Senhor Miranda”; a partir daí a sua viúva passou a sofrer pressão familiar para mudar-se para o Rio de Janeiro. Tendo assimilado a ideia, Maria Sabina Barboza de Miranda, outorgou a terceiros a missão de achar um comprador para sua propriedade.

Do município de Vargem Grande surgiu os maiores interessados: a família Bezerra, que, após rápida negociação, finalmente deu números finais à transação e, de imediato, empreendeu êxodo para a sua nova terra, a “terra mirandense”, e o fez com todo seu clã. José Clementino Bezerra, acompanhado dos filhos Raimundo Abraão Bezerra, Francisco Alexandrino Bezerra e suas respectivas esposas, vieram com a firme intenção de trabalhar a terra, aprofundar raízes e fazer descendência.

Da união de Raimundo Abraão Bezerra e sua esposa Luíza Furtado, nasceram: José Furtado Bezerra, Elisa, Benedita (Biti), Zobeida e Maria, mais conhecida como Dona Maroca.

Francisco Alexandrino Bezerra também fez descendência: Aurino, Manoel, mais conhecido como Nelo, Bernardina, Samuel e Pedrina.

No quesito mão na massa, a família Bezerra seguiu os passos dos seus antecessores portugueses, a lavoura de arroz continuou sendo a principal prática agrícola do lugar, inclusive quando, em 1888, deu-se a abolição da escravatura no Brasil, os escravos que derramavam suor nesses campos decidiram permanecer com o seu antigo senhor, pois eram bem-tratados

A morte repentina do patriarca José Clementino Bezerra, alçou seu filho Raimundo Abraão ao comando dos negócios da família, o que fez com maestria, sendo figura marcante na vida da população local, onde atuou como farmacêutico e o melhor amigo das horas incertas. Sua liderança nesse próspero povoado de Itapecuru Mirim logo foi notada por influentes figuras políticas da época, o que levou Raimundo Abraão a liderar a política local como dirigente partidário do Partido Social Progressista, PSP. Raimundo Abraão conviveu com figuras como: Tarquínio Lopes, Tarquínio Lopes Filho, José Carlos Macieira e Antônio Dino.

Na quarta década do século XX, sua casa era ponto de apoio para padres, pastores missionários, médicos e forneceu abrigo ao grupo de operários, quando da construção da BR 135.

Raimundo Abraão tinha uma visão educacional ímpar, foi dele a iniciativa de construir o primeiro prédio escolar e lutar pela vinda do primeiro casal de professores, o senhor Manfredo Viana e sua esposa Adalgisa, para ensinarem as primeiras letras às próximas gerações, eles foram os verdadeiros alfabetizadores do povoado.

A primeira escola do povoado, batizada Tarquínio Lopes, destacou-se como dedicada professora a senhora Martinha Elísia Rodrigues.

A morte de Raimundo Abraão Bezerra, em 1951, vítima de derrame cerebral, deixou um vazio na liderança política e comunitária local, espaço esse que foi ocupado pelo seu irmão Fábio Bezerra e pelos seus primos: João Mariano Bezerra, Domingos Bezerra, Antônio Bezerra, o Toinho e Francisco Mariano Bezerra.

O PRINCIPAL POVOADO DE ITAPECURU-MIRIM

As décadas avançaram e já no final dos anos de 1960, início dos setenta, o povoado Miranda já se mostrava o mais próspero do município mãe, a cidade de Itapecuru Mirim; possuindo um movimento comercial promissor, grande parte graças ao fluxo econômico impulsionado pela BR 135, que corta a sua sede municipal e também à presença de pequenos, médios e grandes empresários que atuavam no plantio de arroz e no beneficiamento do babaçu.

No campo político, Miranda passou a figurar fortemente no parlamento municipal de Itapecuru Mirim, tendo como seu primeiro representante, o senhor Antônio Montelo, o primeiro vereador da história do então povoado. Depois figuras marcantes como: Celso Carneiro, Augusto Carneiro, Leôncio Bomfim, Tuna Carneiro, Raimundinho Bezerra, Salomão Daniel da Silva, também defenderam Miranda na tribuna da sede.

Já no cargo majoritário, os mirandenses que chegaram a figurar como vice-prefeito foram: Elias Bezerra, vice-prefeito na chapa encabeçada por com José Lauande e Lourenço Bomfim, que fizera chapa vencedora com o prefeito José Carlos Rodrigues.

A luta política e o sonho de um dia Miranda ser elevada à categoria de município sempre povoou a mente das lideranças locais e tal representatividade na vida política de Itapecuru mirim já mostrava ser este um sonho possível, o que desagradava os políticos do próprio Itapecuru como as lideranças de Arari, onde o Padre Brandt, além de líder religioso, fora também um vereador que se posicionavam frontalmente contra os anseios dos mirandenses.

Várias tentativas foram feitas nesse sentido, tendo o vereador Raimundinho Bezerra como principal entusiasta, mas somente com a ascensão do governado Epitácio Cafeteira, em 1986, ao governo do estado e Ricardo Murad, integrante da família Sarney, como presidente da Assembleia Legislativa, o processo emancipatório de Miranda saiu do papel.

A contagem populacional e de eleitores foram feitas, bem como foi realizado um plebiscito para escolha do “novo nome da cidade”. O mesmo foi realizado, em julho de 1987, evento no qual rivalizaram os nomes: Miranda dos Bezerra e Miranda do Norte, tendo esse último vencido por larga margem.

As lideranças locais, agora com um novo personagem no cenário, o empresário Luís Bomfim, aliaram esforços junto ao deputado governista Marcony Caldas, que defendeu a causa no parlamento estadual, até que, por força da Lei estadual Nº 4866, de 15 de março de 1988, finalmente o povoado Miranda foi elevado à categoria de município, com o nome de Miranda do Norte, sendo desmembrado das terras de Itapecuru mirim e Arari.

ANDANDO E TROPEÇANDO COM AS PRÓPRIAS PERNAS,

Os primeiros suspiros de vida do novo município foram amparados pelas mãos do interventor Walter Bezerra, acatado pelo governador Cafeteira, após ser indicado pelas lideranças locais. Coube a Walter Bezerra, então comerciante do ramo farmacêutico, normatizar a máquina pública e, principalmente, dar condições organizacionais à eleição do primeiro prefeito, que aconteceria em outubro daquele ano.

E lá se vão mais de três décadas. A história política de Miranda do Norte marca a hegemonia da família Bomfim, o município que nesse ano de 2024 está prestes a completar 36 anos de emancipado, já teve a oportunidade de eleger 09 (nove) prefeitos e ter nove formações legislativas.

Partindo do princípio de que a alternância de poder é uma prática saudável, em Miranda do Norte o povo não entende assim: Das nove eleições pra prefeito a Família Bomfim saiu-se vencedora 8 (oito) vezes. 

Vamos fazer esse passeio:

 1988: Luís Bomfim

1992: Graciliano Mendonça

1996: Luis Bomfim

2000: César Viana (único não ligado ao clã)

2004: Aurinha Bomfim

2008 e 2012: Junior Lourenço Bomfim

 2016: Junior Negão

2020: Dona Angélica Bomfim.

O povo de Miranda do Norte está mais uma vez diante da sua história e de posse da sua soberania popular de decidir os destinos da sua cidade, pois 2024 é ano de eleição e quem manda é o povo.

Problemas como o abastecimento d`água, o déficit e habitacional, a falta de emprego, e a face caótica do saneamento público da cidade, são questões que só o voto popular pode resolver, escolhendo gestores comprometidos, que tenham a capacidade de olhar para o seu povo como cidadãos merecedores.

Os 36 anos estão chegando e o povo de Miranda do Norte tem mais uma vez a chance de honrar o seu passado e construir um futuro mais próspero, apenas digitando dois números em uma urna eletrônica. Que a força dos anos faça prevalecer o bom senso. Parabéns, Miranda do Norte.


⦁ LÉO FREIRE FILHO é graduado em História pela UEMA, Jornalista e professor da rede municipal de ensino.

⦁ AGRADECIMENTOS: Benedito Bezerra, seu Bibi, Nicodemos Bezerra e Joel Montelo.

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